Processando o banco de dados de nosso coração

À escrivaninha. 21ºC lá fora. Céu maravilhosamente azul pincelado de nuvenzinhas. Uma lufada de vento fresco. Clima tristemente outonal.

Os níveis de estresse estão altos. A pandemia segue mudando estilos de vida e interferindo em relacionamentos. A convivência compulsória, durante 24 horas, tem afastado pessoas. Assisto, impotente, pessoas queridas enfrentando conflitos familiares e pessoais, fim de relacionamentos, separações, doença e morte.

Tenho me esforçado para lutar e vencer o medo e a impotência diante das tempestades diárias. E para resistir positivamente, mesmo quando não enxergo nada de bom na situação. Tenho consciência de que eventos como separações, mortes e doenças irreversíveis estão fora de meu controle. Não posso curá-los ou trazê-los de volta. A tristeza é grande. E esta distância dificultando o abraço…

Há alguns dias, a minha amiga Lu comentou que, mesmo que eu escolha só compartilhar alegria, ambas sabemos das muitas emoções que seguem por aqui, dentro deste coração. É verdade. Muitas emoções não registro publicamente. Mas elas estão aqui, latentes, forçando a barra, prestes a explodir.

Parte destes sentimentos desabafo no caderno de reflexões pessoais e não precisam ser ditos a ninguém. Há, ainda, outras emoções que sequer cogito verbalizar, muito menos escrever. Espero que minha memória  se encarregue de apagá-las.

Talvez as lembranças ruins não desapareçam e fiquem arquivadas no fundo da nossa mente. São feridas que deixam cicatrizes permanentes. Precisamos, no entanto, processar, cuidadosamente, o banco de dados de nosso coração.

Quanto mais envelheço, mais quero descartar do peito os sentimentos desgastantes e armazenar o que é importante para o meu bem-estar emocional. Percebo que preciso me distanciar dos fatos e circunstâncias que desencadeiam emoções negativas. É saudável me manter alheia a interferências externas. Na maioria das vezes, nem me dizem respeito. Mas machucam igualmente.

Esforço-me para não permitir que a tristeza abata minha alma. Certamente deve haver mais alegria na vida que tristeza. Por que concentrar minha emoção nas coisas ruins? O peso que devo dar aos sentimentos positivos deve sobrepujar o peso dos negativos. É um desafio constante. 

Esta é razão por que apenas escrevo sobre coisas que me deixam alegre. Não quero adoecer a alma. Não quero perder a doçura. Não quero deixar o que fere ou decepciona roubar a alegria. Quero manter só o que me ilumina a mente e me afaga o coração. As coisas boas permanecem e curam. As ruins, precisam ser esquecidas, porque nos adoecem. 

Sim, Lu, as tempestades continuam ameaçadoras, mas a paixão pela vida é mais forte.


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