Materializando um dia perfeito

À escrivaninha. 22°C lá fora. O sol resolveu declarar aberto o verão no Rio, após dias nublados e chuvosos. Sorrio, satisfeita. Amo olhar pela janela e vislumbrar um céu azul clarinho com nuvenzinhas branquíssimas aqui e ali. Bem-vindo, verão.

Lendo, hoje, na newsletter da Paula Maria, um dos desafios #toranjanews, fiquei grudada na proposta de materializar como seria um dia perfeito em minha vida. Imediatamente lembrei-me de uma amiga dizendo-me para sair e curtir outras coisas, porque a vida não se resume a ler e escrever. Eu estava justamente contando animada sobre o prazer de produzir romances e de mediar clubes do livro. Obviamente (já usei três advérbios neste parágrafo…), ela referia-se a eu aproveitar o sol, o ar puro, os amigos, a vida fora das quatro paredes.

Desde a tal observação de minha amiga, tenho pensado em o quanto meus dias têm sido solitários, horas a fio, à la Carrie Bradshaw, escrevendo nesta escrivaninha em frente à janela. Fiquei dias conjeturando em como seriam meus dias se eu saísse mais e me relacionasse com pessoas ao vivo e a cores. Porque, ultimamente (olha o advérbio de novo), minhas interações são diversas, todas online, entretanto. E gosto assim.

Sou antissocial. Uma reflexão forçada sobre criar um dia perfeito consternou-me o coração e suscitou uma indagação: preciso mesmo ver gente ao vivo e a cores?

Voltando à carta da Paula Maria, recebi uma paulada (trocadilho infame) que me fez pegar papel e caneta e anotar o que eu gostaria de fazer ou o que acontecesse comigo. “Vamos pensar em criar os nossos dias perfeitos” ela sugeriu. No instante seguinte em que acabei de escrever uma dezena de desejos para um dia ideal, percebi que ele era exatamente (olha o advérbio aqui outra vez) isso: idealizado.

Repreendi-me, em seguida, conscientizando-me de que vivo sonhando acordada. Meus desejos, embora alguns até um pouco realistas, são, em sua maioria, difíceis de serem alcançados. Outros, eu diria que impossíveis. Como se fosse o dia de uma personagem de meus romances, com a vida organizada do jeito que imaginei. Gostei da ideia, sabe? De criar o dia ideal para uma mulher fictícia, com um dia perfeito. Isto mostra a preguiça de mudar o estilo de vida que tenho abraçado desde o início da pandemia.

Sou quase uma eremita. Saio de casa para as sessões de Pilates, caminhando na ida e na volta. Vou a consultas médicas e odontológicas anuais de rotina e visito meu pai de vez em quando. Se puder evitar ir a festas e a eventos sociais, é exatamente (olha o advérbio) o que escolho fazer. Vejo pessoas e interajo com elas, diariamente, às vezes por várias horas, virtualmente, em aulas e estudos, grupos de trabalho, bate-papos de amigos e amigas, grupos de discussão e tal. Talvez eu não conversasse com tantas pessoas pessoalmente como faço através do computador.

Nem sei por que estou escrevendo sobre isso. Não quero mudar o estilo de vida que adotei nos últimos anos desde o início da pandemia de Covid-19. Acomodei-me e estou contente assim. Mas a personagem que criei, ao escrever a listinha que Paula Maria me cutucou a fazer, deseja ardentemente (esse foi forte) que situações e desejos específicos aconteçam em sua vidinha. Acho que escrever romances está me deixando mais sturm und drang do que eu gostaria…

E a lista? Vocês devem estar perguntando. Não vou revelá-la aqui. Não ainda. Parei de escrever por um momento e fui checar a probabilidade de tais desejos se realizarem. Todos perfeitamente (menina!) plausíveis. Sabem o que vou fazer? Criar uma enredo para um próximo romance, hein.

Brincadeiras à parte, agradeço à Paula por me obrigar a esta reflexão. Muita coisa ainda está reverberando na cabeça, mas, por ora, elas vão ficar no plano das ideias. Minha agenda superlotada vai me proporcionar horas e horas de leitura, de escrita, de muitas videoconferências e conversas, aqui, nesta escrivaninha. Mas, prometo inserir, pelo menos um item da lista que fiz hoje, em cada dia de minha reclusa e linda vida.

Desejo lindos dias perfeitos em cada um dos 365 do ano que vem a vocês.

Foto de  Craig Blankenhorn 


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