E não vejo mais o mar…

À escrivaninha. 30°C lá fora. Céu claro a sol e poucas nuvens. Quando trabalhei a 30 km de casa, passei muito tempo guiando meu carro todas as manhãs. Grande parte do percurso era pela orla das praias do Rio.

Uma das minhas maneiras favoritas de descontrair era abrir a janela do carro e observar o mar. Mesmo quando eu estava tendo um dia estressante, isso acalmava meu coração. Dirigia em silêncio, ou cantava em voz alta esta música:

É linda a natureza de Deus.
O céu azul, as nuvens brancas.
Os passarinhos a voar, o monte, o mar.
Seu resplendor.
É tudo amor.
É linda a natureza de Deus.
O céu azul, as nuvens brancas…
♪ ♪ ♪

Pelo menos por alguns minutos, eu gostaria de parar o carro, ir até a praia, estender uma toalha e ler. Mesmo que eu só pudesse fazê-lo por 15 minutos. Essas pequenas pausas seriam como água para minha alma. Eu precisava delas.

Mas eu não estacionava. Permanência parada no engarrafamento, dentro do carro. E olhava o mar pela janela.

Apenas duas vezes, durante todo o tempo em que trabalhei perto do mar, tirei alguns momentos para caminhar pela orla com alguns amigos do trabalho. Eu não percebi o quanto demorei para ter momentos de relaxamento sentada diante do mar, até que aposentei.

Não dirijo mais, todas as manhãs, nem fico mais presa no engarrafamento, a olhar o mar através da janela do meu carro. Entretanto, embora já esteja há mais de seis anos aposentada , eu ainda estou tentando encontrar o equilíbrio de como viver bem sem aquele ritual matutino.

Na maioria das manhãs, eu acordo com os cantos dos passarinhos nas gaiolas de meus vizinhos. Não saio mais de casa de manhã para trabalhar. Em vez de ter um tempo sozinho no carro, dirigindo 30 km até o trabalho, passo alguns minutos na cama, lendo e respondendo e-mails, conversando com as amigas luluzinhas no grupo do Telegram, ou jogando um pouco de HayDay no smartphone.

Percebi que deveria ter prazer naquele momento de relaxamento sentado diante do mar. Então eu penso em encontrar maneiras criativas de fazer isso acontecer, agora que estou aposentada. Ainda é possível ir relaxar diante do mar. Todos os dias, se eu quisesse. Não mais alguns minutos de leitura na praia, mas o tempo que eu desejosse.

Em vez disso, decidir assumir compromissos matutinos.

E não vejo mais o mar…

A minha vida atualmente é toda direcionada para minha Princesinha e minha mãe idosa que exigem minha atenção e cuidados. Suas necessidades estão deslocando as minhas expectativas sobre a aposentadoria para outro foco. Entretanto, são necessidades temporárias, imagino. Logo a Princesinha não precisará mais da minha assistência. Minha mãe também. Ou não. Quem sabe ela não vive até os cem anos, já que ultrapassou os oitenta…

Procuro, agora, aproveitar mínimos minutos entre um compromisso e outro para criar tranquilidade em minha vida cotidiana. Mesmo em um banco de uma galeria comercial, onde me sento para ler , duas vezes por semana, quando vou à fonoaudióloga com a Princesinha. Com pessoas circulando ao meu redor, posso criar tranquilidade em meio ao caos.

Às vezes, fico tranquilamente cantando junto com a minha lista Spotify. De olhos fechados, finjo que estou no meu carro com as janelas abertas para o mar, enquanto aguardo a aula de Inglês da Princesinha terminar.

Estar aposentada não é pior ou melhor. É apenas diferente. Quando me lembro de como eu costumava fazer coisas para relaxar, mesmo trabalhando fora todos os dias, penso que devo criar novas formas de relaxamento. Para não estressar como tenho feito diariamente.

Estou pronta para o desafio de tirar alguns minutos para descansar na praia, uma vez por semana, pelo menos. Fazer sessões de pilates algumas vezes também. Assistir a filmes e comer pipoca no cinema regularmente (não me lembro da última vez que fui ao cinema). Enfim, criar momentos de descontração e relaxamento para este momento da minha vida.

Minha coluna trabalhada vai melhorar. Minha mente estressada vai agradecer.

E você, como cria momentos de descontração, para não pirar, em meio ao caos cotidiano?

Foto: daqui

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