Ensinar literatura é ler literatura

À escrivaninha. 25°C lá fora. Tarde azul com vento frio de inverno levantando as cortinas de voal. Minhas pantufas de monstrinho estão molhadas, mas as meias e o casaquinho seguem firmes por aqui.

Sigo escrevendo diariamente sobre livros e leitura. Confesso que esta sensação de postagens coletivas dos blogs, como fazíamos anos atrás, é maravilhosa.

Este post participa do projeto *BEDA, em que me propus a escrever sobre livros e literatura durante todo o mês de agosto. 

Hoje eu trouxe mais uma experiência com uma de minhas turminhas de 5ª série, nos idos de 2009, em uma rodinha de leitura. Após anos trabalhando com jovens e adultos, voltei a dar aulas para os pequeninos também, enquanto aguardava a aposentadoria.

Em uma dessas rodinhas, lemos, em sala de aula, uma adaptação do conto dos irmãos Grimm, O ganso de ouro. Eu percebia que as crianças não tinham familiaridade com o texto literário, mas os olhinhos brilhavam durante a leitura da história.

Conforme íamos lendo, eu fazia comentários sobre o comportamento dos personagens, tais como solidariedade e ganância. Rimos muito com o desenrolar da história e com seu desfecho. A turminha parecia entusiasmada quando dava sua opinião sobre o enredo.

Falarei mais sobre esta experiência no final deste post.

Ensinar literatura é ler literatura

Nosso trabalho como mediadores da leitura, que na verdade é mais prazer que propriamente trabalho, visa despertar o interesse pelas obras literárias. E a maneira mais eficiente para alcançar este objetivo é, simplesmente, LER!

O interessante, nas Rodas, é que a responsabilidade didática ou acadêmica desaparece, dando lugar a um tipo de relação mais prazerosa com o que é lido. (Suzana Vargas)

Cito aqui a minha querida mestra Suzana Vargas, que me apresentou o projeto de rodas de leitura, há cerca de vinte anos. Ela abomina a prática docente de usar um texto ficcional, rico em possibilidades de trabalho com as crianças e os jovens, para “sublinhar adjetivos”. Eu ri, mas é de nervoso.

Não nego que já tenha feito isso, no início da carreira, porém, antes, com certeza, já havia destrinchado o texto literário. Em minhas rodas de leitura, mantinha o cuidado de registrar o que os alunos e as alunas escreviam sobre o trecho lido em sala de aula. Dava-lhes a oportunidade de utilizar a linguagem com que mais se identificassem: desenho, poesia, música, depoimentos, vídeos, e o que mais a imaginação ditasse.

O ganso de ouro na rodinha

Para terminar, quero destacar a experiência da rodinha de leitura com minha turminha, que citei no início deste post. Após a leitura do conto, pedi-lhes que resumissem a história de João Bocó e o ganso de ouro, com a linguagem que desejassem.

Surgiram tantos trabalhinhos, tudo muito simples, alguns em folhas de caderno mesmo, mas feitos com amor. Havia depoimentos, cruzadinhas, desenhos de cenas do conto, poemas, etc. Uma coisa linda de se ver!

João Bocó, filho de um lenhador pobre, ajuda um homenzinho na floresta, dividindo com ele sua bebida e sua comida. O homem tinha poderes mágicos e lhe diz para que vá até determinada árvore. Dentro dela, João Bocó descobre um ganso de ouro.

Depois de vários acontecimentos, Bocó chega a um reino onde havia uma princesa que nunca ria. Ajudado pelo homenzinho, cumpre uma série de tarefas e se casa com a princesa.

Destaquei esse desenho, na imagem ao lado, por sua simplicidade e singeleza. Sim, eu tenho os trabalhinhos guardados. Sou dessas.

As atividades, em minhas rodas de leitura, eram feitas sem nenhuma intenção didática, parafraseando a mestra. Era pura e simplesmente despertar naquelas crianças o prazer de poderem expressar o quisessem, livremente, e se encantarem com as obras literárias.

Então, é isso. Ler é algo simples e despretensioso, e levar as pessoas a gostar de ler e interagir com o texto de modo bem prazeroso é fascinante.

Promover a Literatura, com toda certeza, é possibilitar o prazer estético, concordam?


* Este post faz parte do BEDA – Blog Every Day (April/August), um projeto coletivo em que os blogs se propõem a postar todos os dias do mês. Ele pode acontecer em Abril e/ou em Agosto.



6 comentários em “Ensinar literatura é ler literatura”

  1. Não conheço nada de literatura infantil ou infanto juvenil. Não é o meu mundo, nem mesmo quando criança eu gostava. Mas eu considero muito importante a leitura com as crianças. Para mim foi maravilhoso ouvir mitologia grega da nonna, e ler as mitologias egipcias e celtas nos livros grossos e pesados. Tive uma professora que tentou me empurrar os livros (próprios para a minha idade) e entramos em guerra. Certeza que eu e você nos daríamos bem. rs

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    • KKKK, empurrar os livros é ótimo. Por isso que gosto de rodas de leitura. A pessoa recebe uma mostra do livro e do autor e decide se que se aventurar por esse caminho.
      Com certeza íamos trocar figurinhas juntas.
      beijo, menina

      Responder

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