Um enredo macabro e fascinante

 À escrivaninha. 23°C lá fora. Noite abafada, mas com um vento gelado levantando as cortinas. Chove lá fora.

Este post participa do projeto *BEDA, e me propus a postar sobre livros e literatura no mês de agosto.

Para o décimo oitavo post participante do projeto, vou compartilhar um dos livros de minha “listinha” de leitura (que só aumenta). É bom anotar as sugesões que nos dão, porque a gente vai descobrindo obras que nunca teve a curiosidade de ler. Quando digo isto, lembro-me de uma professora na Faculdade que, segundo ela, lia tudo que era publicado. Uma leitora voraz.

Eu costumo escolher minhas leituras pelo que me é afim, a menos que sejam uma obrigação profissional. Entretanto, desde que iniciei a curadoria do clube do livro, decidi apreciar a leitura de outros gêneros que nunca li antes. Descobri que gosto de ler narrativas meio ultra românticas, soturnas, aterrorizantes, de suspense. Também aprendi a gostar de romances policiais, investigativos, espionagem. Quem diria, eu, a leitora e escritora de romances românticos.

Um enredo macabro

Às vezes acontece de uma obra não me pegar, como se diz. Quando terminei de ler o romance (os especialistas classificam-no como novela ou  crônica romanceada) A alma do Lázaro, de José de Alencar, por exemplo, respirei aliviada. Li-o em dois dias.mas confesso que tive de ter força de vontade para não desistir da leitura. A linguagem, embora simples, possui algo que a torna muito formal para os dias de hoje. Um vocabulário cansativo, o que não é muito comum em Alencar.

O próprio autor revela que prefere ”a poesia plebeia, em prosa estirada, que isso de verso é cousa com que não se conformava o espírito. Vão lá medir o pensamento, rimar as paixões?” (Adorei isto!)

Vencida a barreira inicial da linguagem (estou parecendo meus alunos que reclamavam da linguagem das obras literárias), o que me prendeu à leitura até o fim, no entanto, foi exatamente o enredo macabro. A alma do Lázaro é um diário de um leproso. Um misto de terror e sofrimento. De solidão e solidariedade. De repugnância e sentimento. De amor e de ódio.

Eis um trechinho:

Ergui-me, com ânimo de ganhar a casa sem demora.

Mas os joelhos dobraram-se, e um fio de gelo correu-me pelo corpo, arrufando a pele e erriçando-me os cabelos; foi-me preciso grande esforço para dominar-me, e vencer o susto pueril que me tomara de surpresa.

Tinha ouvido uma voz trêmula que rezava cantando à surdina uma ladainha de igreja; e pareceu-me que afinal chegara a ocasião de ver surgir diante de mim um desses fantasmas que nas minhas extravagantes elucubrações, eu tantas vezes evocara.

Alfarrábios


Este livro faz parte de uma trilogia de romances históricos de José de Alencar, Alfarrábios: cronicas dos tempos coloniaes. Publicada em 1873, reune três histórias em dois volumes, dedicadas à vida no período colonial. No primeiro, veio O Garatuja; no segundo, duas novelas escritas ainda no tempo de estudante, A alma de Lázaro e O ermitão da Glória.

A Alma do Lázaro foi uma das primeiras histórias do autor. Por algum motivo, acabou caindo no esquecimento por mais de 100 anos. Ela foi redescoberta somente em 2010 e republicada em 2011. Pode ser encontrada facilmente no site domínio público.

Não tenho certeza se lerei os outros dois Alfarrábios: O garatuja e O ermitão da glória. Arrisco-me a dizer que não, mas nunca se sabe.

Já leu algum deles? O que achou?


* Este post faz parte do BEDA – Blog Every Day (April/August), um projeto coletivo em que os blogs se propõem a postar todos os dias do mês. Ele pode acontecer em Abril e/ou em Agosto


4 comentários em “Um enredo macabro e fascinante”

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