Cabeças prateadas e mãos franzidas revelam almas iluminadas pelo tempo

À escrivaninha. 24ºC lá fora. Um vento tão frio obriga-me agasalhos e meias. Após a meia-idade, calor e frio oscilam o tempo todo. Trocadilho infame…

Ao longo de minha vida, conheci pessoas interessantes e imaginei que manteríamos a amizade para sempre. O tempo passou, nos separamos, perdemos o contato e a amizade se desfez. Há pessoas iluminadas, no entanto, que entraram em minha vida e permaneceram. Para sempre.

Tenho amigas assim, eternas, unidas, anos a fio. Envelhecemos juntas, compartilhando os momentos bacanas de nossa vida e os mais bizarros também. Esta cumplicidade é uma coisa mágica, espontânea, tão natural.

Com personalidades bem diferentes, vivenciamos alegrias e tristezas, planos e expectativas. Já passei por vários desastres pessoais e sei exatamente o quanto é importante a presença dessas inseparáveis amigas para amenizar as desilusões.

Em nosso último encontro, dois meses antes do anúncio da pandemia, observamos que precisaríamos nos ver em intervalos menores, já que a idade avança para todas nós. Uma delas estava se recuperando de um AVC. Somos, literalmente, idosas.

Após uma determinada fase da vida, temos mais pressa. A vida não espera.  A morte espreita. E a amizade se estreita. Agora, mais do que nunca.

Há cerca de um ano e meio, devido à pandemia, nosso plano de encontros mais frequentes foi logrado. Temos nos comunicado diariamente através de aplicativo de mensagens no celular. Esta interação é tão imprescindível agora! O “Bom dia!” no grupo, a cada novo amanhecer, é uma lufada de ânimo e de  alegria por saber que elas estão vivas, mais um dia.

Quando estivermos todas vacinadas contra a Covid-19, qualquer dia a gente vai se encontrar – assim falava a canção. E conversaremos sobre aposentadoria, sobre ninho vazio, sobre encontros e desencontros, sobre memórias.

E brindaremos a nossos cabelos prateados, a nossas mãos franzidas, a nossas almas iluminadas pela passagem dos anos.

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