À escrivaninha. 16°C lá fora. Céu cinzento. Os dias têm sido frios e chuvosos, chegando a alguns dígitos abaixo de 15°C. Isto é incomum para o Rio.
Ultrapassar a meia-idade trouxe-me a compreensão e a consciência de certas particularidades da pessoa idosa. Trouxe-me, em consequência, a capacidade de ser resiliente após algumas pequenas humilhações cotidianas. Trouxe-me, finalmente, a sabedoria de perceber-me adulta, mesmo quando me tratam com condescendência e repreensão, já que, presumem, sou uma velhinha.
As pessoas reforçam seus estereótipos sobre o envelhecimento pela maneira como tratam pessoas idosas. Estarem mais velhas significa serem frágeis e vulneráveis, embora pareçam fortes e saudáveis.
Em um outro extremo, ignoram-nos solenemente, como se estivéssemos sob o manto da invisibilidade senil. Aprendi a usar este “poder” de invisibilidade da idade a meu favor e a desfrutar da liberdade que ele me traz.
Tenho a percepção das fragilidades das pessoas e sou agraciada pela capacidade de compreender e perdoar. Acredito que isto faz de mim uma pessoa gentil e feliz. Ao deixar, para trás, aborrecimentos e preocupações insignificantes, vejo-os perderem a força de seu efeito maléfico sobre mim.
Tenho a consciência física de meu próprio corpo envelhecido. Não me importam as rugas, as cãs ou qualquer característica relacionada à aparência natural da idade. Por outro lado, travo uma luta diária contra a diminuição de minha força e resistência física e mental. Importa-me, realmente, ser capaz de realizar tarefas básicas com autonomia e independência.
Sou grata por ainda ser autossuficiente e ter condições de decidir se quero manter pessoas ou situações rudes em minha vida. Sinto-me grata por ainda possuir a graça da perspicácia e da tolerância diante das indignidades impostas a pessoas idosas.
Sou sensível a pessoas e circunstâncias adversas, naturalmente. Entretanto, tenho me limitado a sorrir, a fazer concessões e a seguir em frente nos dias de lucidez que me restam.
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