À escrivaninha. 23°C lá fora. Céu azul clarinho. Sem nuvens e ensolarado. Curiosamente, dentro do apartamento, a sensação é de estar em um freezer. O sol de inverno que entra pela minha janela sugere uma caminhada. Mas continuo enrolada no poncho que minha amiga Ana me presenteou, há alguns anos, e não arredo o pé da saga de tentar escrever.
Digo “tentar” escrever por uma razão específica. Desde que entramos em recesso nas sessões de mentoria e nos grupos de escrita, não tenho produzido nada em meu novo romance. Parece que minha mente interpretou isso como uma desculpa para se eximir da tarefa de criar. É exatamente isso: estou seca de ideias e zerada de motivação para construir novas cenas e capítulos.
Isto me leva à reflexão: acostumei-me a escrever motivada pela possibilidade de ser lida e comentada. E os meus grupos de escrita proporcionam esta experiência. As pessos são amigas e solidárias, e tenho sorte por me beneficiar da disciplina e do apoio emocional que encontro neles. O que me obriga a fazer uma outra reflexão:
Grupos de escrita são necessários durante o processo de escrita?
Às vezes, impressiono-me quando veem em meus textos algo que eu nunca pretendi dizer. Leitores, revisores, grupos de crítica, editores reagem subjetivamente. O meu trabalho, entretanto, como aprendiz de escritora, é desenvolver um estilo próprio. Mesmo que contrarie a abordagem de alguns daqueles.
Considero a prática de comentar os textos uns dos outros uma ferramenta útil para estabelecer aspectos de melhorias. Porém, tenho em mente a minha perspectiva. Como escritora, devo tomar as decisões sobre que ideias usar após receber os feedbacks de meus textos. Não é fácil, mas é essencial ter um olhar atento para fazer alterações ou manter o que se pretendia a princípio. Leva tempo aprender isso, mas vale a pena.
A ajuda mais importante que se pode obter de um grupo de escrita é o consenso. Se todos dizem que algo em seu texto precisa de atenção, provavelmente precisa.
Nem sempre os escritores e as escritoras desses grupos produzem o mesmo gênero. Contudo, uma boa crítica requer empatia. Manter isto em foco tornou-se minha bússola.
Um comentário não é um ultimato
Ainda estou aprendendo a avaliar as críticas e sugestões e ver se fazem sentido para mim. Usar as abordagens negativas ou positivas como uma lista de verificação, e, em seguida, editar o texto do meu próprio jeito tem sido mais eficaz que mudar a história.
Mesmo quando meus parceiros de crítica fazem comentários incomuns (raramente acontece), apenas ter alguém reagindo ao que escrevi desperta ideias em meu cérebro sobre como melhorá-lo. Na verdade, às vezes, quando envio um texto para ser submetido ao grupo, tenho ideias antes mesmo de receber os feedbacks. Talvez seja o estímulo mental de olhar o trabalho de fora de minha cabeça.
Quando você avalia a história de outras pessoas, pode reconhece seus próprios problemas. Como nem todo mundo vê a mesma coisa, ´é uma ocasião importante para conhecer a percepção de várias mentes a seu trabalho.
Há grupos de crítica tóxicos, não se engane. Mas, felizmente, há aqueles em que os membros realmente querem ajudar uns aos outros e todos saem ganhando. Eu gosto de ter mentoria e acompanhamento críticos enquanto escrevo meus romances. Felizmente, encontrei parcerias de escrita incríveis para trocar ideias enquanto produzimos nossos trabalhos. Apoiamos e encorajamos uns aos outros a fazer o nosso melhor. Nossas reuniões são descontraídas e cheias de energia positiva.
Sou sortuda, eu sei.