À escrivaninha. 24 °C lá fora. Céu nublado, chuva e vento. É provável que a chuva continue. Aqui dentro de mim também…
Sobre perdas
A perda de um filho é uma das experiências mais dolorosas que uma pessoa pode ter. A alma dói. Sabemos que a morte faz parte do ciclo da vida. Mas um filho…
O tempo vai passando e vou aprendendo a olhar as pessoas de outra maneira. Enxergando a dor e o sofrimento dos outros, às vezes, sinto que me esqueço da própria dor. É óbvio que, muitas vezes sinto-me profundamente abalada ao relembrar a tragédia que vivi. Há dias em que estou muito triste mesmo. Especialmente no dia de hoje.
Nessas horas, agradeço pela graça de conviver com a Princesinha, razão de eu continuar lutando para não desmoronar. Vê-la crescer e se parecer tanto com ele. Quero que ela veja em mim a força, a coragem, a fé para vencer qualquer obstáculo. Para tudo isso, o meu bálsamo é a oração e minha fé em Deus.
Aceitar a perda
Não sinto mais ódio nem raiva dos assassinos. Já senti. Muita. Perdoei. Houve muitos momentos em que pensei que Deus havia me abandonado e estava me castigando, ao levar meu filho tão cedo. E de uma forma tão violenta. Meu trabalho tem me ajudado a entender que o sofrimento não é só meu. Convivo o tempo todo com a dor de outras pessoas. E a gente acaba aprendendo a aceitar a morte.
Há dias em que sou forte. E outros há em que não quero sair de casa. Mas, logo recupero o equilíbrio, e ninguém imagina o que acontece por dentro desta rocha em que me transformei. Ainda tenho minha filha e a linda Princesinha. Sei que elas não suprem a ausência do meu menino. Cada filho é único. Insubstituível. Mas elas me dão ânimo para lutar e querer viver.
Sobre anjos
Não corro atrás de justiça. Nem quero saber o porquê de ele ter ido de forma trágica, aos 19 anos. Mantenho-me ocupada o dia inteiro. Procuro me lembrar dos momentos bons que passei com meu menino, de seus abraços, de sua gargalhada gostosa.
Para muitos, a vida não tem mais sentido quando se perde um filho. Mas a vida continua. Há dias em que se está mais triste, mas precisamos prosseguir. O que me sustenta é a fé. Todos estamos sujeitos aos sofrimentos e tragédias da vida, mas a fé nos dá força para suportá-las. Superar? Talvez nunca. Esquecer? Jamais!
Hoje é o aniversário de sua partida. E eu tenho a graça de ser mãe de um anjo…
Parabéns pra você
Nesta data, querido…
Foto de Zoltan Tasi na Unsplash