Que tal uma “limpesa” no idioma?

À escrivaninha. 28°C lá fora. O céu está azul brilhante e limpo. Não tão brilhante quanto a situação no mundo, mas, vamos em frente. Desistir não é uma opção.

Algum tempo atrás, durante uma aula na turma de jovens e adultos, uma aluna confidenciou-me um episódio curioso. No curso de culinária que frequentava, a professora costumava distribuir as tarefas entre os grupos, anotando-as em um quadro branco. Todos os dias, ela escrevia “limpesa” na coluna destinada à equipe encarregada de tal função.

Logo nos primeiros dias, minha aluna, junto com algumas colegas, tentou gentilmente corrigir a instrutora do curso, explicando que a palavra deveria ser escrita com a letra z. No entanto, com uma postura teimosa e autoconfiante, a “professora” afirmava categoricamente que ‘sempre se escreveu limpeza com s’. Minha aluna, uma jovem bem dedicada por sinal, parecia aflita com a situação, pois eu havia ensinado em sala de aula a diferença entre os sufixos -esa e -eza. Era um dilema perturbador ver uma figura de autoridade cometer um erro básico e persistir nele.

Eu sei que o português não é uma língua das mais fáceis de aprender. Felizmente, a gente dispõe de várias ferramentas para checar o uso correto, quando precisamos de mais cuidado na comunicação. Temos dicionários, gramáticas, manuais de redação e, se nada disso resolver, sempre podemos recorrer a revisores ou a professores de Português (afinal, servimos para alguma coisa, não é?).

Eu defendo a ideia de que a linguagem deve se adaptar à situação. Porém, preocupo-me ao perceber erros graves em textos públicos feitos por pessoas ou empresas influentes. Para quem conhece bem o idioma, isso pega mal, e confunde quem ainda está aprendendo português, dando-lhes a impressão de que o erro está certo.

Enfim, eu disse à minha aluna que acreditasse no dicionário e ponto final. Assim não ficaria dividida entre o que dizem suas “professoras”, a de Culinária e a de Português. Desta forma, a lei se fez impor, a da norma, evidentemente, e a ordem voltou a imperar na sala de aula.


Foto:  Zimmytwss em Canva


Este post participa do #Literoutubro, cuja proposta é escrever um texto sob o tema disutópicos, a fim de explorar ideias de sociedades perfeitas ou falhas, e as tensões entre o desejo de utopia e a realidade de distopias. O tema de hoje: ORDEM. LEI e ORDEM

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.