O poder do não-violento “não”

À escrivaninha. 24oC lá fora. Inverno fresquinho, com direito a céu de um azul radiante, salpicado com nuvens brancas.

Sentada em minha cama, ouço a música que vem da sala. Terminei a leitura de Mansfield Park, da Austen. Assisti, novamente, ao filme “O Palácio das Ilusões”, de 1999, com Jonny Lee Miller e Frances O’Connor, como Edmund e Fanny. Assistir, outra vez, às cenas, após a leitura do livro, trouxe outra perspectiva mais produtiva, ainda que o filme não seja tão fiel ao romance, comum em adaptações.

Fanny Price se concentra. Em sua quietude, ela incorpora desobediência civil, protesto pacífico. Ela é o poder do não-violento não . Não, não vou falar assim. Não, não vou lidar com essa atitude temporária. Não, não vou me casar com esse homem. Não, não vou apoiar essa mentira. Ela não desiste, e sua resistência é irresistível. Ana Keesey

Fanny é uma mulher que, diante de algo que não gosta ou entende, imediatamente nega e se retira para si mesma. Eu a compreendo. Isso significa escolher o que o coração quer, descartar o resto e viver a vida em seus próprios termos. Tenho esperança de viver mais alguns anos e fazer o que quero, em vez de o que “tenho” de fazer.

Citando Fanny Price, eu também “não tenho talento para certezas”. Surpreendo-me com minha inconstância. Perco o interesse rapidamente em algo que, a princípio, dispunha minha energia e tempo. E não tenho escrúpulos em dizer “não”, sem ter de justificar minhas decisões. O melhor de estar mais velha e mais sábia é perceber que não me importa o que as pessoas pensam sobre minhas escolhas.

Viver e deixar viver. Fazer o que funciona para mim. Uma vida agradável, lenta e simples. Com mais tempo livre, menos compromissos e demandas . Posso não estar fazendo nada de emocionante, mas estou bem com isto.

Por outro lado, como Mary Crawford, “não nasci para ficar quieta e não fazer nada. Se eu perder o jogo, não será por não ter lutado pela vitória.”. Parece contraditório, pois surpreendo-me retornando a algo que abandonara, com interesse reavivado. Recomeçar é uma de minhas incongruências. Opõe-se, diretamente, à minha impulsividade. Contê-la tem sido um desafio contínuo. Às vezes, ela vence. Então, recomeço o jogo.

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