Amor outonal na roda

À escrivaninha. 22°C lá fora. Céu azu limpíssimo e um sol morninho. Do lado de dentro de minha janela sinto a brisa gelada. A gente se anima com um dia claro e ensolarado, mas é inverno ainda, não se engane, garota.

Hoje é o segundo dia de agosto, e este post participa do projeto *BEDA.

Pretendo escrever sobre livros e literatura, a cada dia do mês de agosto. Para o segundo post de estreia no projeto, vou compartilhar o encontro em que conversamos sobre este romance maravilhoso da Hilary Boyd em nossa roda de leitura.

Conversas na roda

Em meu projeto Roda de leitura “Só Românticos” compartilho o prazer de ler e crio laços de amizade em conversas sobre temas universais ligados ao amor e ao relacionamento afetivo nas obras lidas.

A reunião anterior foi animada com um trecho do romance “Jane Eyre”, da Charlotte Brontë. Conversamos sobre como a história de Jane desafia o destino imposto às mulheres e as posições sociais que elas deveriam ocupar. 

Na edição de hoje, vim contar como foi o encontro seguinte. A conversa teve o livro Quintas-feiras no Parque, de uma escritora que ainda não conhecia, a também britânica Hilary Boyd. Pessoas mais velhas – mulheres – representadas na ficção, foi a pauta.

Hilary

Boyd adota uma posição feminista em suas obras, demonstrando um interesse particular na influência que as mulheres mais velhas têm sobre suas próprias vidas à medida que envelhecem. Um fio temático recorrente em seus textos investiga as ideias gêmeas de invisibilidade e liberdade.

“Eu acredito de todo o coração, que o amor romântico pode surgir, em qualquer idade. Acho muito importante ter pessoas mais velhas – mulheres – representadas na ficção. Não apenas como figuras de vovó, mas como seres sexuais vibrantes e úteis.” Hilary Boyd

O livro, traduzido no Brasil como Encontros no parque, conta a história de uma mulher que enfrenta etarismo e luta contra a invisibilidade e inutilidade para se manter viva, útil e interessante com a idade que tem. Ao descobrir o amor, reavalia sua vida e sua função no relacionamento consigo mesma e com os outros – mulher, mãe,  esposa,  avó e o que realmente deseja ser.

Jeanie

Em mais de trinta anos de casada, Jeanie sempre foi uma esposa amorosa e mãe dedicada. E agora é avó – com muito orgulho. Ela se considera feliz, apesar de George, o marido, ter passado a dormir em outro quarto há vários anos, sem lhe dar qualquer explicação.

Certo dia, enquanto leva a neta para passear no parque, Jeanie conhece Ray, que está ali também na companhia do neto. Ray parece ser tudo o que George não é: compreensivo, bom ouvinte, alguém com quem ela consegue se abrir e ser sexy. De repente, Jeanie se sente atraente de novo e, sem querer, apaixona-se perdidamente. Ela sabe muito bem que sua nova paixão ameaça tudo o que construiu ao longo dos anos, mas sente que vai ser difícil abrir mão dela. 

Naquela noite, a sós na cozinha, preparando a salada para o jantar enquanto George continuava trancado com seus relógios, Jeanie lembrou-se das palavras de sua tia Norma sobre ter 60 anos.

A tia, única irmã de seu pai, recentemente completara 90 anos e ainda vivia feliz e independente em sua casa em Wimbledon. Uma mulher ainda muito ativa e esperta, com os olhos azuis penetrantes que Jeanie herdara, tia Norma trabalhara no MI5 durante a guerra e, depois, cuidara dos pais idosos.

Quando chegou aos 60 anos, ambos tinham morrido, e ela, uma solteirona um pouco robusta, que usava luvas e chapéu, assumira um ar boêmio ao transformar sua sala de jantar em
estúdio e começar a pintar.

— Sessenta anos é o paraíso — dissera a Jeanie uma vez enquanto tomavam um chá. — O mundo não quer mais saber de você, e, para todos os efeitos, você se tornou invisível, especialmente se for mulher. Gosto de pensar nessa fase como a terceira vida. Temos a infância, a conformidade adulta, com trabalho, família, responsabilidades, e,
finalmente, quando todos imaginam que tudo acabou e que você virou sucata, a liberdade! Você pode finalmente ser quem é, e não o que a sociedade quer que você seja ou quem você acha que deveria ser.

— Isso não é um pensamento de outra geração? — perguntara Jeanie. — Nossa geração tem muita liberdade. Desde o feminismo, podemos fazer o que queremos.

Tia Norma sabiamente concordara.

— Pode mesmo? — Ela sorrira. Seus pequenos olhos azuis brilharam. — Parece-me que ainda existem expectativas em relação à família e a outras coisas. — E balançara a cabeça. — Mas quem sou eu para saber?

O amor

O romance também questiona a noção da unidade familiar como o alicerce sobre o qual todas as outras interações humanas são construídas. Os casamentos longos têm uma dinâmica muito diferente. Apenas estar com alguém por décadas traz consigo um compartilhamento e uma responsabilidade.

Os casais mais velhos convivem e se toleram, e não são necessariamente sexys. Um caso nem sempre significa o fim de tudo. É um fato da natureza humana que, em um casamento longo, há uma chance de que um dos parceiros, ou ambos, lance um olhar para outro lugar.

Nós, mulheres, chegando aos 60 anos ou mais, não vamos entrar suavemente na velhice. Com a independência econômica, com a qual nossas mães só poderiam sonhar, não toleramos casamentos duvidosos e que não estão funcionando para nós, da mesma forma que nossos pais.

E, afinal, o que importa é o amor, pois ele encerra a totalidade de qualquer relacionamento. Boyd mostra que quando o amor chega, não importa a idade ou estágio da vida, ele tem o mesmo efeito aos 60 anos e aos 16.

Então é isso.

Você já leu esse romance da Hillary Boyd? Que impressões teve sobre ele? Conte no comentários.

Ah, e quero convidar você a ler comigo em nossas próximas rodas de leitura, sempre aos terceiros sabados de cada mês. Se você ama a ficção romãntica, clique no link abaixo e entre na roda.

Próximo encontro:

Dia: 19/08/2023
Obra: Dôra, Doralina

Entre na Roda de leitura “Só Românticos“.


* Este post faz parte do BEDA – Blog Every Day (April/August), um projeto coletivo em que os blogs se propõem a postar todos os dias do mês. Ele pode acontecer em Abril e/ou em Agosto.


6 comentários em “Amor outonal na roda”

  1. Estou cá a revirar os meus pensamentos em busca de Hilary Boyd e nada. Vou até pesquisar a reseito porque a curiosidade mandou lembranças. rs

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    • Oi, amada, deixei um link do site dela no post, É só clicar no nome da sujeita.
      Confesso que me surpreendi com a escrita da autora. Leve, divertida e com uma pegada diferente, ao usar protagonistas mais velhas.
      beijo, menina

      Responder

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