À escrivaninha. 24 ºC lá fora. Inverno ventoso, com direito a céu de um azul radiante. Meus dedos gelados deslizam no teclado e minhas pernas enregelam com a brisa fria que entra por baixo das cortinas.
O momento para a leitura
Sabe aquele livro que a gente tenta começar, mas parece que ele não está pronto para ser acolhido? Foi assim comigo e Middlemarch. Será que não era o livro que precisava estar pronto, mas a leitora aqui?
Middlemarch é um romance de George Eliot, pseudônimo de Mary Anne Evans, escritora inglesa do século XIX, publicado em partes entre 1871 e 1872, com a edição completa em 1874.
A história se passa numa cidade fictícia nas Midlands, entre 1829 e 1832, e entrelaça diversas tramas para explorar temas profundos como o status das mulheres, o idealismo, o casamento, a política e as relações humanas.
Considerado uma obra-prima da literatura vitoriana, é reconhecido pela sensibilidade com que retrata a complexidade da vida cotidiana, daqueles detalhes que só o tempo e a experiência conseguem revelar.
Confesso que, em alguns momentos, durante a leitura, senti muita raiva, com a tensão entre os ideais das personagens e a realidade que insistia em impor seus limites. A complexidade dessa obra está justamente nessa ambição de retratar a vida em toda a sua beleza e suas renúncias.
Virginia Woolf chamou esse romance de “o mais sábio já escrito em língua inglesa”. Ao final do livro, tive de concordar com os desdobramentos da história. Quantas vezes a gente também se vê tendo que abrir mão, ceder, ou simplesmente mudar a direção? E ainda assim, mesmo nesses momentos, pode haver sabedoria.
O valor do ritmo lento
Lembro da primeira vez que tentei ler Middlemarch. Estava doente, desconectada do mundo, e a narrativa simplesmente não se apresentou para mim. Foi só depois, em outro tempo, outra disposição, que voltei a ele. E aí tudo mudou: as personagens ganharam vida, e a leitura se tornou possível. Como se aquele livro tivesse me esperado, e eu a ele.
Isso me faz pensar no ritmo da vida e nas situações que cruzam nosso caminho. Quantas vezes tentamos forçar uma comunicação, uma sintonia que ainda não está pronta? Como se tudo tivesse que acontecer sem dar espaço para que o tempo faça seu trabalho. Middlemarch me ensinou que existe um tempo certo para cada coisa, um momento que depende do que estamos carregando por dentro: nossas emoções e também nossas limitações.
Nesse lugar da espera, sem ansiedade e sem pressa, a profundidade da história despertou algumas reflexões dentro de minha mente. Acho que a gente se esquece, às vezes, do valor desse ritmo lento, do aprendizado que surge da paciência.
E você? Tem algum livro que precisou esperar pelo seu tempo?
Foto de Nathan Dumlao na Unsplash