À escrivaninha. 27°C lá fora. Céu azul sem uma nuvenzinha sequer. Maravilha de se olhar. O calor segue derretendo as ideias.
Ao longo dos anos, minha autoconfiança vem crescendo. Entretanto, percebo-a ainda frágil. Ainda oscila. E diminui, às vezes. Mesmo depois dos sessenta, quando você pensa que tem tudo sob controle.
Na maior parte do tempo, estou confortável com quem eu sou e com quem me tornei. Reconheço o meu valor. Sei quais os meus pontos negativos e quais os meus pontos positivos. Porém, alguns dias, acordo assim, julgando-me incapaz. Tenho de me esforçar mais para encontrar a minha autoconfiança. Para não me subestimar.
Alguns dias eu tento e não há nada aqui. Ou não há muito. Fico dizendo a mim mesma que agora estou em uma nova fase da vida, e o que era interessante antes já não é tão importante agora. Tenho lido mais que os últimos meses. Escrever contos e editar meu novo romance, às vezes, fica em segundo plano. Uma sensação de impotência. Como se não tivesse capacidade para tal. A sensação de prepotência me julga lá do fundo de minha mente. Quem você pensa que é para querer escrever livros?
O que fazer quando a autoconfiança está diminuindo?
Normalmente, não faço nada, apenas espero em silêncio.
Lembro-me de todas as coisas bacanas que já fiz no passado e que foram incríveis. Relembro as conquistas recentes, não importa quão pequenas possam parecer. Não faço sucesso como escritora — nem este é o objetivo principal — mas escrever um romance me trouxe relacionamentos significativos no mundo editorial. Reconheço como as habilidades aprendidas como mediadora de leitura me possibilitaram transmitir meus conhecimento nas oficinas. Refletir sobre esses feitos ajudam a reforçar minha capacidade e talento.
Hoje, enquanto saboreava meu café, lembrei-me do sonho que tive há algumas noites: eu estava namorando. Acordei dizendo: “não estou mais em idade para isso.” Então, pensei em minhas amigas — da minha idade ou até mais velhas — que têm relacionamentos saudáveis e divertidos. Não que queira ter um agora. Apenas estou ciente de que eu posso, se eu quiser.
Tenho ainda, bem lá no fundinho do cérebro, o desejo de aproveitar as oportunidades para fazer o que eu desejar, sem permitir que me digam que sou velha demais para experimentá-las. Outras vezes, pego-me pensando em largar tudo para lá e ficar quietinha assistindo minhas séries na tevê.
E você, o que faz quando sua autoconfiança diminui?
Foto de John Tuesday na Unsplash