À escrivaninha. 33 ºC lá fora. Mal vejo o azul do céu, coberto por imensas nuvens brancas. Após os sessenta, escrever é a maneira que encontrei de deixar fluir algo que sempre esteve preso e agora descobri que pode voar.
Ser uma escritora publicada deixou de ser um sonho e, ao se realizar, despertou um senso de responsabilidade com a qualidade e a utilidade do que compartilho.
Antes, a escrita era fácil, nos blogs, nas redes, porque escrevia sem preocupações literárias. De uma forma muito contundente, escrever usando a linguagem literária, com suas técnicas e elaborações, exige uma disciplina que, até então, eu sequer cogitava ter. Por outro lado, tal responsabilidade não é pesada, pelo contrário, é algo que flui com leveza, como se sempre fizesse isso.
Neste período da vida, em que dedico todo meu dia — ou quase todo — a escrever, não me vejo fazendo outra coisa. Eu poderia estar tricotando toucas (adoro crochê, poderia estar viajando o ano inteiro, como as pessoas planejam fazer ao se aposentar, poderia estar produzindo coisas tão interessantes com todo o tempo que tenho, ou com o que me resta, e escolhi escrever.
Sinto -me com nova disposição para exercer a prática de escrita. Percebi que tenho muito a melhorar em meu texto e trabalhar para elaborar melhor o meu próprio estilo. Deixar só o que for divertido. Afinal, antes de qualquer exigência, escrever é prazer. É poder voar.
Foto de Hannah Wei na Unsplash