À escrivaninha. 31°C lá fora. Céu azul maravilhindo, salpicado de nuvens, como gosto de ver. Tarde quieta e quente. O silêncio é quebrado, de vez em quando, por trinados de pássaros perto de minha janela.
Há 17 anos tenho um Anjo. Hoje seria aniversário dele.
Na semana passada, a amiga Luciana trouxe-nos um poema de Paulo Leminski, na aula do curso de Mediação de Rodas de Leitura, ministrada pela Professora Suzana Vargas. O poema “O que passou, Passou?” dissertava sobre a morte de uma maneira bem-humorada.
Para espanto de todas, conversamos sobre o assunto com um sorriso no rosto, tal era o tom descontraído dos versos de Leminski. Fiquei pensando, enquanto discutíamos o poema, que, ao brincarmos sobre a realidade da morte, escondemos a nossa dor.
Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim
é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria
e todo o mundo ia renascer.
Nestes versos iniciais, o poeta faz referência ao “prazer de morrer”. Provavelmente tal prazer estaria relacionado à crença da renovação, do renascimento. Acredito nisto. Na ressurreição.
Deve ser esta a razão de, há 17 anos, não chorar a partida do meu Anjo. Lágrimas contidas, encerradas dentro do peito. Uma certeza de que o verei novamente.
O que passou, passou? Com certeza, não. O que acabou, não acabou.
Todas as noites, perscruto o céu e sorrio. E ele me sorri de volta. Sim, eu tenho um Anjo que me sorri das estrelas.
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