A cegueira revisitada

À escrivaninha. 19°C lá fora. Céu escuro, sem nenhuma estrela e algumas nuvenzinhas. É a primeira vez que escrevo um post à noite, mas é por uma boa causa. Hoje é dia primeiro de agosto, e pretendo participar, pela primeira vez (quantas primeiras vezes neste parágrafo…) do BEDA, instigada pela querida Lunna Guedes.

A sigla BEDA significa Blog Every Day (April/August). É um projeto coletivo onde os blogs se propõem a postar todos os dias do mês. Ele pode acontecer em Abril e/ou em Agosto.

Pretendo escrever sobre livros e literatura, a cada dia do mês de agosto. Para o post de estreia no projeto, vou compartilhar uma experiência marcante quando lecionava Literatura no ensino médio.

Em meados de 2008, fui assistir ao filme Ensaio sobre a cegueira, do cineasta Fernando Meirelles, uma adaptação da obra homônima de José Saramago. No elenco, Julianne Moore, Mark Ruffallo, Danny Gloover e outras feras.

A princípio, imaginei que fosse ver cenas fortíssimas, conforme li em algumas críticas, mas, confesso que Fernando Meirelles teve muita sensibilidade ao retratá-las muito sutilmente, sem agredir o espectador e, ao mesmo tempo , sem tirar o foco sobre o quão vil pode ser o homem quando seus limites estão à prova. Na realidade, o livro é mais intenso na descrição de tais cenas.

Realmente, a gente tende a refletir a respeito do que realmente importa nesta vida. Fiquei imaginando por que o homem (macho da espécie humana) pode ser tão ganancioso e tão sádico, mesmo estando em situação tão deplorável, em que o natural seria ser solidário e misericordioso. Também fiquei refletindo sobre a natureza feminina, tão desprendida e disposta a sacrifícios para o bem dos outros.

É nos momentos de grande tensão em que os limites humanos estão à prova que a verdadeira natureza do homem se manifesta. 

Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem. (Ensaio sobre a cegueira. José Saramago)

Valeu a pena, foi proveitoso, e me deu subsídios para o debate que tencionava fazer com meus alunos, juntamente com a professora de Filosofia e História (assistimos juntas ao filme) sobre esta axiologia. Que valores são importantes para nossa sociedade. São essenciais, autênticos, compatíveis com a natureza humana?

A cegueira revisitada

Em sala de aula, costumava realizar, com meus alunos, um projeto com temas variados de Literatura. Eles deveriam fazer apresentações com música, slides, cartazes, enfim, a linguagem que desejassem sobre a obra que estivéssemos lendo ou sobre o tema abordado nas aulas. 

Após fazermos um debate sobre a obra de Saramago, sugeri que assistissem ao filme Ensaio sobre a cegueira. Pois bem, dias depois, um dos grupos de trabalho acatou a sugestão que eu havia feito e foram assistir à adaptação de Fernando Meirelles. E a apresentação deles me surpreendeu.


A imagem que ilustra este post, feita por meus alunos, é um misto de poema concreto ilustrado na forma de óculos, com frases da primeira cena do livro de Saramago, que é também a primeira do filme.

Nem é preciso dizer que adorei! Quando eles me mostraram isso, fiquei boquiaberta, pois não imaginava que fossem fazer este trabalho. Eu não havia pedido para fazer apresentação, apenas sugeri que assistissem ao filme. Foi opção deles escolher ler o Saramago, ir assistir ao filme e me fazer esta supresa. Amei, né.

Então, o que acharam?


Este post faz parte do projeto BEDA.


8 comentários em “A cegueira revisitada”

  1. Eu já vi o filme e achei incrível, muito bom para ser utilizado em reflexões e debates. Adorei o poema concreto que seus alunos fizeram!
    Ótimo mês e BEDA pra você!
    Bjss

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    • Oi, Carol, bom ter você por aqui.
      Sim, a obra e a adaptação são um material rico pra trabalhar.
      Um mês bacana pra você também e um ótimo BEDA.
      beijo, menina

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  2. Não sabia que havia um filme sobre o livro. Também estou participando do BEDA e com certeza aparecerei por aqui mais vezes, afinal, é sempre bom ler sobre livros.
    Abraços!

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    • Oi, querida, que bom receber você aqui. Sobre o filme, já faz muitos anos que foi feito, mas deve ser fácil encontrar. Vou ler seu post e comentar por lá.

      Um ótimo BEDA pra nós.

      Beijo, menina

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  3. Boa noite cara mia… sabe que eu ensaiei várias vezes esse filme a acabei por não assistir. Mas eu li o livro e esse é problema. Sempre fico com receio do resultado do olhar do roterista para o meu livro de estimação.
    Lendo o seu post, fiquei a imaginar as suas aulas, cara mia…
    Adorei saber que irá participar do Beda, viu? E amei reencontrá-la…

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    • Oi, querida, que bom reencontrá-la em uma situação tão adorável: falando sobre escrita! Obrigada por me instigar a blogar com mais intensidade, como nós velhos tempos.
      Quanto às adaptações das obras que amamos, sempre haverá um excesso de licença poética, mas eu amo ver assim mesmo.
      Um ótimo BEDA pra nós.

      Beijo, menina

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