À escrivaninha. 30°C lá fora. A primavera empurrando o inverno para trás. Gosto deste sol, deste céu azul, desta brisa.
E já se passaram seis meses dentro de casa, nesta epidemia do vírus! Não consigo nem descrever como nosso humor tem estado ultimamente, por causa do confinamento forçado. Às vezes, pergunto-me se estamos em uma série de ficção científica. Caminhando com zumbis.
Estamos vivenciando muitas perdas. Perda de liberdade, restritos a nossas casas. Perda de comunicação e socialização. Perda de empregos e renda para muitas pessoas. E, o mais triste, perda de familiares e amigos, para o COVID-19. Há muita gente que não está suportando o estresse de ficar isolado em casa, e busca algum lazer, na rua, como uma válvula de escape.
Tive a minha primeira saída, desde o início da quarentena. Preferia não ter saído, mas foi necessário. As minhas meninas me levaram para a praia, anteontem. Passamos a manhã em uma sessão de fotos da neta, que completará quinze anos, em meio a uma “quarentena” sem fim.
Felizmente, a praia estava vazia, e pude tomar sol e respirar o ar marinho por algumas horas. Concentro-me nestes raríssimos momentos preciosos, pois não espero grandes horas de alegria. Aproveitei para ficar quieta e apenas curtir a natureza.
Minha neta disse que eu não trabalho. É claro que eu trabalho! Não remunerado, pois, aposentada. Moderar um Clube do Livro virtual, pesquisar e postar conteúdo no blog, administrar o orçamento doméstico, cuidar da alimentação e higiene da casa, entre outras coisas, é trabalho sim! É um trabalho mais mental, prazeroso, mas, ainda assim, um trabalho. Ora, pois!
Passo meus longos dias de distanciamento social cozinhando receitas de comidinhas saudáveis, relacionando-me virtualmente nos aplicativos de vídeo, lendo blogs e livros, escrevendo bastante, assistindo a filmes e séries, jogando online, no celular, e me exercitando. Não nessa ordem, obviamente.
É uma sensação de privilégio ter tanto tempo para explorar. Sinto-me um pouco deslocada, especialmente quando percebo as meninas sobrecarregadas de tarefas e projetos da escola e do trabalho em home office. Estamos todos em cenários diferentes do que imaginávamos, no início do ano.
Nem preciso dizer que pretendo ficar o resto do ano em casa. Estou fazendo o possível para não me infectar com este vírus, nunca! Não sei que complicações poderei desenvolver, caso seja contaminada e sobreviva.
Temos de esperar até o próximo ano, antes de sabermos o que vem a seguir. Até lá, fico em casa.