Versos eternizam a existência

À escrivaninha. 28°C lá fora. Está uma noite quente e abafada. A meteorologia prometeu tempestade leve de raios e trovões, seja lá o que isso significa. Até o momento, nada de chuva. Só calor. E viva o verão!

Abri meu antigo blog e encontrei um poema de uma querida que partiu recemente. E fiquei refletindo sobre o que Calvino tão bem definiu, através do personagem. Então, quero trazer um sopro de beleza a este post melancólico, brindando por sua linda vida, com ele.

Aqui, os versos da menina que domina a deliciosa arte de brincar com palavras: 

"Dizem-me questionadora
Dizem-me intolerante
Dizem-me exagerada
Dizem-me trágica

Digo–me questionar sabedoria
Digo–me não tolerar brutalidade
Digo–me exagerar no sorriso
Digo–me tragicamente emotiva

Questionando, exagero na busca da perfeição dos sentidos, na captura do olhar mais querido, no capricho do mais verdadeiro relato, no aperto do mais forte abraço, no salivar do mais longo beijo, no pacto de amores, no tratado de confiança, na fluência de palavras, na decência de valores, no resgate da inocência, no direito à liberdade de toda gente. Admito-me assim, sendo". 

Brincando com Palavras. Márcia Kastrup Rehen

Em As cidades invisíveis, de Italo Calvino, Kublai Khan, o imperador do império mongol, pede ao aventureiro Marco Polo que lhe descreva detalhes das várias cidades que fazem parte de seu domínio. Ao chegar a Adelma, uma das cidades, Polo reconhece, nos rostos dos habitantes, pessoas de
seu passado que já morreram. E reflete sobre isso neste trecho extremamente profundo:

Chega-se a um momento da vida em que, entre todas as pessoas que conhecemos, os mortos são mais numerosos que os vivos. E a mente se recusa a aceitar outras fisionomias, outras expressões: em todas as faces novas que encontra, imprime velhos desenhos. para cada uma descobre a máscara que melhor se adapta.

Somos, literalmente, idosas.

À medida que envelhecemos, crescem as memórias acumuladas, e estas memórias podem superar as experiências vividas no presente.  Vejo pessoas queridas indo embora, e não encontro outras que signifiquem o mesmo que elas foram em minha vida.

Hoje mesmo, sugeri novamente, a amigas de longa data, que precisamos nos encontrar mais vezes, e em intervalos menores, já que a idade avança para todas nós. Tantas já com a saúde debilitada, com doenças terminais, mas lutando para aproveitar cada segundo que ainda têm.

Adeus, amiga. Vejo-te em teus versos que eternizam tua existência nesta Terra. Manterei tua imagem para sempre em minha memória.

Imagem: https://www.canva.com/

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