Um futuro eterno enquanto dure

À escrivaninha. 35°C lá fora. Céu azul maravilhindo saúda a chegada de outubro com luz e calor. O ano se aproxima do fim e o futuro é logo ali.

Pouco antes de completar sessenta anos, refleti sobre com o que desejava me ocupar quando fosse considerada oficialmente uma anciã. Elaborei uma lista, não de coisas a fazer, mas de atitudes a tomar. Algo prático, viável e a curto prazo. Um elenco realista de desejos futuros.

Sendo assim, profetizei os projetos de trabalho, de viagens, de lazer, de relacionamentos, enfim, de tudo o que o coração anseia, nesta fase da vida.

Não podemos esquecer de assumir um novo olhar para onde estamos e para o que nós queremos.

Prognostiquei estar fisica, emocional e mentalmente ágil e saudável após os sessenta, consciente de que há muita coisa que não podemos prever. Por isso, adaptabilidade e planejamento foram fundamentais neste rol de possibilidades futuras.

Então, sem mais delongas (quem ainda fala assim?) vamos à minha lista de possíveis futuros sexagenários em um mundo etarista, idadista, ageísta. Mas, não se preocupem, minha visão de futuro na maturidade — ou velhice, como queiram — é um misto de utopia e distopia, obviamente.

Selecionei três áreas da vida em que quero estar ativa e imaginei futuros disutópicos para a terceira, apelidada melhor idade:

Ocupar ambientes benevolentes

Tenho me esforçado para estar em ambientes onde as pessoas comunguem ideias, valores, sonhos, projetos, sentimentos semelhantes aos meus. Esta parte é a utopia. Na realidade, percebo uma disposição quase unânime para nos afastar das atividades sociais. Entretanto, acredito ser possível haver um mundo em que seja naturalizada a presença de pessoas de maior idade em todos os espaços: cultural, profissional, de lazer etc. Um mundo em que podemos ser acolhidas como pessoas úteis, produtivas e interessantes. Velhinhos e velhinhas esbanjando vitalidade e felicidade.

Realizar o trabalho ideal

Poder fazer o que sei, aquilo em que sou boa, o que me interessa, o que me dá prazer. Quero liberdade para realizar meus projetos pessoais e profissionais. Ver meu romance publicado, após os sessenta anos foi uma conquista significativa. Quero um futuro em que pessoas maduras exerçam os papéis em que são eficazes. Um mundo em que não exista mais o terrível e injusto afastamento compulsório de excelentes profissionais em pleno vigor físico e intelectual por atingirem a idade limite em seus trabalhos. Que a sabedoria e a experiência sobrevivam.

Vencer restrições ao escolher um projeto

Seja de trabalho, pessoal ou de lazer, sempre tenho de considerar se um projeto ou uma atividade ou um evento é benéfico à minha saúde. Preciso conferir se disponho de fundos para pagar o investimento ou a formação;  se a localização inclui a necessidade de ter um carro ou seja de fácil acesso para condução. Se o projeto ou atividade for online, tenho de aprimorar os meios físicos e de conhecimento para realizá-lo bem. Sonho com um futuro em que as atividades sejam inclusivas e respeitem a diversidade em todos os aspectos.

A vida parece mais rápida após os sessenta. Precisamos lembrar sempre que as necessidades e circunstâncias continuarão a mudar. Rápida e inexoravelmente. Entretanto, enquanto houver fôlego, enquanto houver vontade, enquanto houver desejo de trabalhar, participar de eventos, criar projetos, amar e ser amada, a pessoa não pode ser impedida de ocupar espaços e de prosperar.

Sonho com um futuro, utópico, talvez, em que ser velho não signifique ser inútil, descartável e desinteressante. Onde se possa viver eternamente enquanto a gente durar.


Este post participa do #Literoutubro, cuja proposta é escrever um texto sob o tema disutópicos, a fim de explorar ideias de sociedades perfeitas ou falhas, e as tensões entre o desejo de utopia e a realidade de distopias.

O tema de hoje: FUTURO.

Imagem: Canva

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