À escrivaninha. 23°C lá fora. Noite fresca, com céu nublado, chuva fraquinha regando a terra. Voltei às pantufas e ao casaquinho. Rindo sozinha, imaginando-me uma senhorinha.
Este post participa do projeto *BEDA, e me propus a postar sobre livros e literatura no mês de agosto.
Para o oitavo post participante do projeto, vou compartilhar qual a primeira obra literária que li na vida e que me introduziu no mundo das Letras e me fez descobrir a paixão pela Literatura.
Foi na escola primária que tive contato com as histórias de ficção. A professora da biblioteca ia nas salas e lia um capítulo por semana. A gente podia pegar livrinhos emprestados e levar para ler em casa. Porém, a obra que me marcou, de verdade, foi um livro indicado na aula de Português, no ginásio, quando ainda muito menina, com meus doze anos, se não me engano. Pasmem: foi o Emília no País da Gramática, de Monteiro Lobato!
Lobato representa a língua como uma cidade, a cidade da Gramática, e leva para lá o pessoalzinho do sítio, montado no rinoceronte. E é esse paciente paquiderme o gramático que tudo mostra e explica. Há a entrevista de Emília com o venerando Verbo Ser, que é pura criação. E a reforma ortográfica, que Emília opera à força, com o rinoceronte ali a seu lado para sustentar suas decisões, constitui um episódio que não só encanta as crianças pela fabulação como ensina as principais regras da ortografia. (Lobato. memoria globo)
Naquela época, ler um livro inteiro, de verdade, e gostar, foi uma experiência marcante. Até então, eu só lia os gibis que meu irmão trazia para casa. Meus pais não cultivavam o hábito da leitura de obras literárias. Havia muitas revistas, jornais, fascículos, enciclopédias, mas nada de romances, contos, crônicas. Nada. Nadica de nada.
Ainda lembro o formato e o cheiro dele (do livro do Lobato, entendem, né). Mesmo adepta da tecnologia dos livros digitais, não abro mão do prazer de manusear, cheirar, carregar e me deliciar com um livro de papel.
Curiosamente, mesmo não sendo fã de Lobato, li quase todos os livros dele. A obra é linda. As ideias é que são meio loucas pro meu gosto. A experiência de ler ficção foi tão intensa que eu me enfurnava na biblioteca da escola, em qualquer tempo vago que tivesse.
Houve outros livros, ao longo de minha trajetória, que tiveram importância. Lembro-me de ter lido A Moreninha, do Joaquim Manuel de Macedo, por três vezes seguidas, ainda no Ginásio (sou antiga) e queria mais e mais livros. Ainda quero.
Para finalizar, quero ilustrar este post com o delicado poema de Manuel Bandeira:
“Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração eu tinha
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
– O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.”
Então, parafraseando Bandeira , eu diria que Emilia no país da Gramática foi o minha primeira namorada. Amor literário, se é que me entendem. .
* Este post faz parte do BEDA – Blog Every Day (April/August), um projeto coletivo em que os blogs se propõem a postar todos os dias do mês. Ele pode acontecer em Abril e/ou em Agosto.
Adorei esse post… já escrevi (aliás, me repito bastante) a respeito do meu primeiro amor literário). Um livro de poesias, em ingles e italiano que era da minha mãe. 80 poemas de Emily Dickinson. Amo aquele livro… rs
bacio
Que estreia triunfal no mundo das letras! Invejei agora kkkk
Beijo, menina
Também comecei com Monteiro Lobato. Passei para Julio Verne e desemboquei em dois anos em Machado de Assis. Não era para a minha idade, esqueceram de avisar. Quando dei por mim, já estava envolvido em “decifrar” palavras no dicionário para poder compreender melhor os seus enredos. É uma influência permanente.
Que bom recebê-lo aqui em meu cantinho. Sempre digo que é preciso maturidade para ler Machado, e recomendava as meus alunos que o relessem quando ficar sem mais velhos. Eu iam fazer ou se fizeram, não sei dizer.
Abraço, garoto