À escrivaninha. 29°C lá fora. Tarde nublada, com sol escondido frustrando planos praianos de Carnaval. Se bem que tempo fechado não impede a disposição de quem pretende cair na folia.
Por falar em folia, quero convidar você a visitar a minha newsletter Aprendiz de Escritora, nesta segunda pré-Carnaval. Nosso grupo de newsletters criou o desafio Carnewsval, e estaremos escrevendo em clima de fantasia, mascarados, incorporados de outra personalidade. Acesse para ler na web ou assine para receber o texto em seu e-mail
Nos últimos dias tenho experimentado uma sensação que descreveria como “falta de”. Desde que comecei a escrever meus romances, surpreendo-me envolvida com a interação dos personagens, de uma forma pouco recomendável. Conforme venho criando o mundo fictício deles — literalmente comum, mas idealizado —, percebo o quanto me falta algo indefinível, indecifrável.
E uma delas é a felicidade. No sentido único, íntimo, pessoal.
Percebi que abri mão de tantas coisas ao longo dos anos e naturalizei isso. Agora, refletindo, nos momentos de solitude, cheguei à conclusão de que sofro de “falta de”. De viver um grande amor. De compartilhar mente e coração. De algo que preencha não sei o quê. E isso é tão estranho, a esta altura da vida. Escrever romances tem me afetado de uma maneira nada saudável.
Há alguns dias, li o tratado sobre a felicidade que a Lalai Persson escreveu em sua newsletter Espiral e a “falta de” sofreu um pico insuportável. Senti-me incomodada quanto li que alguns dos principais ingredientes para uma vida feliz e longeva é a qualidade das nossas relações. E que investir em relacionamentos é estar presente.
As relações online, embora produtivas e relevantes, não geram toque, olho no olho, abraço. E presença é algo que faz falta.
Então, eu parei e olhei para a minha vida. Sou aquela pessoa que seleciona criteriosamente meus relacionamentos afetivos — de amizade, familiar, de projetos. Não vivo cercada de pessoas no mundo real (fora do virtual, quero dizer). Pelo contrário, passo grandes horas isolada dentro de casa e dentro de mim.
Habituei-me a encontrar pequenos prazeres e alegria nas coisas simples. Venho mantendo o foco em atividades positivas e divertidas. Prossegui isolada fisicamente, mesmo com o fim da quarentena de COVID-19, por opção. Julgava que estar conectada emocionalmente a quem amo era suficiente. Este era o meu projeto de felicidade: isolada, sim, mas feliz. Até então, não me parecia esquisito.
Mas, como citei no início deste post, meus sentidos andam exacerbados desde que comecei a escrever romances. Deste modo, ao ler sobre felicidade no tratado da Lalai, perguntei-me se sou uma pessoa infeliz. E senti “falta de” algo que ainda não consegui definir o que seja.
Segundo a Lalai, “não ser solitária não é necessariamente estar cercada de pessoas, mas é ter com quem contar quando precisamos”. Embora as relações virtuais possam ser tão potentes quanto as físicas, sempre faltará alguma “falta de” para nos preencher.
A felicidade é uma escolha e realmente importa. Escolhi cuidar de minha mente, focar no que me faz feliz e parar de reclamar para não me tornar uma velhinha rabugenta. Mas, há dias em que luto com esse sentimento de vazio, de “falta de” algo que não sei o que é.
E você, sente falta de quê?
Foto de Priscilla Du Preez na Unsplash