À escrivaninha. 28°C lá fora. Finalmente um vislumbre de dias mais frescos e secos. A chuva deu uma trégua, por ora. Bem-vindo, Sol!
Todos os dias penso: “estou muito velha para isso”, “estou muito velha para aquilo”. Isto significa que cheguei a uma fase em minha vida em que me permito não fazer coisas em meu corpo.
Isto significa que não sou obrigada a fazer o que esperam de mim, se não me sentir confortável. Estou velha para tomar a decisão de decidir o que eu não quero fazer. Sem me preocupar se pareço desleixada, fora de moda, desarrumada. Engraçado, não vejo dizerem que homens mais velhos parecem desleixados com seus grisalhos e suas rugas.
Frequentemente ouço alguém me dizer, sobre minha aparência (meus cabelos, minhas sobrancelhas, minhas roupas, minha não-maquiagem: “ah, mas você devia fazer isto”; “ah, mas você não devia fazer aquilo”; “por que você não faz assim (ou assado)?”.
Nos últimos anos, percebi que estou muito velha para me importar com o que os outros pensam sobre minha aparência. Eu me importo com o que eu penso sobre mim, quando me vejo no espelho.
De cabelos, maquiagem e roupas, a aparência de meu corpo propriamente dita. Eu decido quais cuidados exigem minha atenção. Estou muito velha para me preocupar com rugas, cabelos brancos, barriguinha saliente, celulites. Preocupo-me apenas com minha saúde física e emocional.
Eu decidi que sou muito velha para me preocupar em não ferir suscetibilidades alheias. Estou muito velha para não pensar apenas no bem-estar alheio.
Quanta coisa deixamos de fazer, ou fazemos, apenas para deixar os outros confortáveis. Aprender a dizer “não” é um aprendizado longo. Mas, quando você domina esta arte, é libertador! E eu apenas decido o que eu não quero fazer, comunico minha decisão e ponto final.
O grisalho é libertador!
Eu não era assim, decidida, quando era mais jovem. Vivia às voltas com tratamentos de beleza. Mantinha uma assinatura mensal no salão para cuidar dos cabelos, unhas e pele! Gostava de parecer jovem e bonita. Tentava seguir os ditames da moda (nem sempre conseguia) e me comportava como era esperado pela sociedade.
Lembro-me de uma vez em que algumas “amigas” gargalhavam de minhas pernas cabeludas. Eu havia esquecido de depilá-las, porque usava calças compridas a semana toda. No fim de semana, coloquei saia e fui passear com as meninas. Eu era bem jovem. Até hoje, quando eu decido depilar as pernas, lembro-me delas rindo e apontando para mim.
Agora, eu sou muito velha para todas essas interferências externas. Não tenho nenhuma preocupação em sair com as pernas cabeludas. Nem me lembro de que os pelos lá estão. Quando eu quero, deixo-as bem lisinhas. Porque eu decido assim. O mesmo se aplica às sobrancelhas. Fico meses sem mexer nelas. Um belo dia, deixo-as bem acertadinhas.
Pintar cabelos, tirar pelos, cortar cutículas, pinçar sobrancelhas, e outras obrigações femininas, já não me escravizam há um bom tempo! Considero muito elegante uma mulher com maquiagem, com belas unhas pintadas, com lindos cabelos coloridos e vestida com bom gosto e beleza! Sim, aprecio a beleza, mas não uso mais tantos artifícios para obtê-la! Uso-os quando quero. Porque me agradam e não me agridem.
Estou muito velha, mas muito confiante, muito segura de quem eu sou e de como quero estar. Isso é, agora, mais intenso, depois que completei sessenta. Porque envelhecemos, e a beleza exterior não importa tanto depois de um tempo. Defino isso como libertação.
Esta é a minha vida. Este é o meu rosto. Este é o meu corpo. Esta sou eu. E eu me sinto muito bem.