À escrivaninha. 22ºC lá fora. Aqui dentro, sensação de muito frio. Resfriada. Inverno no Rio é coisa esquisita. Congelamos durante a madrugada e aquecemos durante o dia.
Aqui estou, apreciando o silêncio ante cada tempestade diária. Consciente de que os anos estão passando. Sexagenária, em minha mente, ainda me sinto jovem. Entretanto, imagino que, para as outras pessoas mais novas que eu, sou uma idosa, de cabelos brancos, ultrapassada e ignorante sobre os assuntos atuais. Ah, os jovens, eles acreditam mesmo que não envelhecerão?
Nos últimos dias, saí para uma caminhada ao sol. Recebi a segunda dose de AstraZeneca, e, ainda assim, não abro mão de usar máscara e manter o distanciamento social. Observei, nas ruas e dentro das lojas, pessoas sem este cuidado. Tentei não me estressar com isto, mas é inevitável. Esforço-me para lembrar que, se alguns estão negligenciando os protocolos, não significa que eu tenha de me abater.
Escolher seletivamente o que permitimos em nossas mentes, em nosso espaço e em nossas vidas é essencial para manter nossa paz de espírito.
Tenho escolhido o silêncio, embora tenha sentido uma vontade irresistível de advertir as pessoas sobre sua responsabilidade coletiva. Nestas horas, sinto-me como a velhinha de brancas cãs, resmungando pela rua. Então, calo a boca e sigo o meu caminho.
Somos mais velhos e temos as coisas que fazemos em casa, então estamos bem. O lar é onde temos paz, sem as perturbações do mundo exterior. É um lugar em que me mantenho ocupada com receitas, leituras, filmes, séries, jogos e blogs. Se eu fosse jovem, também teria dificuldade em manter a quarentena e o distanciamento. Teria?
Imagino que eu gostaria de poder estar ao ar livre, nesta pandemia, em um espaço amplo, aberto, tendo o céu como cobertura. De máscara, obviamente, que minha mente é jovem, mas o corpo é velho. Embora o vírus não faça acepção de corpos.
Como não tenho esta opção, volto para o meu castelo, meu lugar de refúgio. E aprecio o silêncio.