A criança que eu fui diante da devastação da natureza

À escrivaninha. 28°C lá fora. Céu azul salpicado de nuvenzinhas tímidas neste domingo de primavera.

Ainda me lembro das brincadeiras ao ar livre, no quintal de casa, do cheiro do mato, das cores vibrantes das flores das árvores, do sabor das mangas carlotinhas e das goiabas colhidas no pé. Momentos em que a natureza era nossa amiga, e podíamos confiar que nos daria seu alimento, nos abrigar em sua sombra e desfrutar de seu ar puro e acolhedor.

Olhando as fotos antigas, vejo-me trepada na goiabeira sorridente. Desafiávamos a gravidade no balanço feito por papai e pendurado no tronco do flamboyant. Em dias de chuva, encharcávamos as roupas, no quintal enlameado, em uma algazarra indescritível. Como era bom! Lagartas coloridas, formigas saúvas com suas cabeças vermelhas, cigarras cantoras e, às vezes, cobras e gambás apareciam e viravam parte da brincadeira ou do susto.

Sensibilidade ecológica na infância

Eu e meus sete irmãos tínhamos uma sensibilidade ecológica que talvez fosse mais natural e mais genuína. Sabíamos que o lixo jogado na rua entupiria os bueiros, e que a água nos banhos de mangueira não podia ser desperdiçada, enquanto lavávamos a escadaria que dá acesso ao portão da rua. Éramos crianças que, mesmo sem entender toda a complexidade dos problemas ambientais, percebíamos que algo nos havia sido roubado, quando, um dia, o mato foi substituído por concreto e as árvores derrubadas sem piedade.

Hoje, no velho quintal da casa de minha infância, alguns vasos de plantas ainda resistem ao calor sobre o chão de cimento, solidários ao arbusto remanescente de folhas avermelhadas, espremido em um canteiro no canto do muro. Como consolo, a mata atrás da casa segue impávida e colossal. Pelo menos.

Conexão com a Terra na idade adulta

Todos os dias, agora adulta, sigo me policiando para manter vivo o sentimento de conexão com a terra, mesmo diante da dureza das nossas realidades atuais na relação com o ambiente. Aquela criança permanece dentro de mim, em cada gesto de cuidado, em cada escolha consciente de reciclar, de reaproveitar, de exigir uma vida mais sustentável, de proteger o que ainda podemos preservar.

Um conselho que eu daria para a criança que eu fui seria: resista à devastação da natureza no seu quintal, lute para salvar as árvores, o mato e os animaizinhos. Talvez os adultos não a escute, ocupados em construir a garagem subterrânea para o carro poluidor, mas a semente da consciência ambiental será plantada em nossa mente infantil.

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