Notas além da vida

À escrivaninha. 22°C lá fora. O céu está encoberto e sombrio. Um vento frio entra pela janela e prenuncia a queda da temperatura.

Diários e cartas capturam momentos, medos, alegrias e segredos. Tenho refletido sobre como tais escritos podem sobreviver a nós e revelar camadas esquecidas. A ideia de que, no futuro, alguém os leia e descubra uma faceta nossa que jamais imaginaria é, ao mesmo tempo, intrigante e perturbadora.

Vulnerabilidade e autenticidade

Muitos pensam que cartas e diários pessoais funcionam como legado emocional. Diferentemente da memória oral, o escrito é um documento concreto do passado íntimo de quem já partiu. Sentir-se vulnerável ao expor como fomos tratados ou como nos sentimos em relação aos outros é um risco que assumimos em nossos escritos pessoais. Esses registros, no entanto, têm o poder de revelar nosso verdadeiro eu, pois a escrita livre e sincera escapa às máscaras sociais.

Talvez por isso, eu tenha decidido queimar meus diários de adolescência. Havia neles uma sinceridade que, ao reler, me deixava exposta. Hoje, ao escrever, sigo me sentindo vulnerável, mas prefiro ser autêntica e escolho ser honesta. Sei que cada palavra carregada de verdade é também um risco. Ainda assim, acredito ser esse o maior valor da escrita: ter coragem de se mostrar, mesmo que ninguém jamais venha a ler.

Ao serem abertos ou tornados públicos, após a morte de quem os produziu, curiosidade e afetos podem surgir diante do que se revela em suas linhas. É nesse encontro póstumo que reside a importância da força da escrita, não apenas para o presente, mas para o tempo que ainda virá.

Espero que minhas confissões à escrivaninha despertem mais sorrisos que rancores…

Foto de KoolShooters

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