À escrivaninha. 31 °C lá fora. O verão carioca mostrando a que veio. Janeiro se despediu e nem sinto saudades. Este mês foi atípico por aqui. Nunca bebi tanta água, devido a uma condição de saúde que me derrubou, e nunca li tanto.
Sou mediadora de leitura. Além das leituras planejadas nos Clubes do Livro e nas Rodas de Leitura, acrescentei outras a meus momentos de recuperação de uma semana com uma diarreia devastadora. Devo confessar que, enquanto sofria e convalescia, assisti a inúmeros noticiários na tevê — algo raro eu fazer — e a alguns realities e programas de auditório, pasmem! O que a doença faz com a gente… Absolvo-me por ler mais livros que o habitual em menos de duas semanas e compartilho algumas dessas leituras aqui.
Abri o ano com poesia
Com O livro das pedras, mergulhei na poesia forte, sem perder a delicadeza, de Luiza Leite Ferreira pelas três partes da obra: “Murro em ponta de faca”, “Água mole em pedra dura” e “Leite de pedra”.
"Água mole em pedra dura / contorna sensualmente / a rocha impassível / Água mole em pedra dura / desmancha pacientemente / a dureza do tempo" (Luiza Ferreira Leite, O livro das pedras, p. 41.)
São essas pedras no sapato, no caminho, que ferem, machucam que a poeta ressignifica, sugerindo lições em cada tombo, conforme nos confidencia a autora, a quem tenho a alegria de conhecer. Leia Luiza!
Mais poesia em meio à dor
Li Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, para clube do livro do Coletivo Escreviventes, do qual faço parte. A coletânea com poesias de Stella do Patrocínio, representam os seus “falatórios” gravados pela equipe do hospital psiquiátrico em que viveu.
Não sou eu que gosto de nascer
Eles é que me botam para nascer todo dia
E sempre que eu morro me ressuscitam
Me encarnam me desencarnam me reencarnam
Me formam em menos de um segundo
Se eu sumir desaparecer eles me procuram onde eu estiver
Pra estar olhando pro gás pras paredes pro teto
Ou pra cabeça deles e pro corpo deles(Stella do Patrocínio, Reino dos bichos e dos animais é o meu nome)
Stella critica e questiona o julgamento, a marginalização e tratamento daqueles considerados “loucos” na sociedade, que pertencem a grupos sociais oprimidos. Uma leitura necessária.
A loucura em meio ao terror
A primeira leitura do meu Clube do Livro, a Confraria em Busca do Livro Perdido — criado em meio à pandemia de Covid-19 — trouxe a história apavorante de Henry James.
No livro A outra volta do parafuso, uma história de terror psicológico, acompanhei a agonia da governanta em uma grande casa inglesa, contratada para cuidar de duas crianças. A mulher começa a desconfiar que as crianças enxergam e convivem com os espíritos.
Dessa vez… era uma outra pessoa; mas uma figura igualmente horrível e má: uma mulher de preto, pálida e medonha… com um jeito e um rosto que… ah!
(Henry James, A outra volta do parafuso.)
Embora eu não seja apreciadora de histórias de terror, o desenvolvimento, a construção dos personagens, a ambientação da mansão mal assombrada, tudo isso me prendeu na história.
Apreciei tanto a narrativa de Henry que, após terminada a leitura, fui assistir a adaptações da obra. Os filmes: Os órfãos, A Maldição da Mansão Bly e Os Inocentes. Nem acredito que encarei cenas de espíritos assustadores com naturalidade. Se você aprecia o gênero, vá em frente.
Eu li alguns outros livros em janeiro. Eles não eram para um clube do livro, mas estou muito cansada para continuar este post.
Saúdo fevereiro com alegria. Que sejam dias saudáveis. Com boas leituras!
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