À escrivaninha. 32°C lá fora. Céu azul acinzentado com vento levantando as cortinas de renda em minha janela. Mais do que preferências na decoração, temos uma casa onde compartilhamos vida.
Morando juntas, eu e as minhas duas meninas, por quase vinte anos, muitos dos nossos hábitos foram mudados. Os tapetes, por exemplo, foram retirados da sala. Eu amo tapetes, mas elas, não. Acampamos na sala para assistir a filmes de terror, suspense, drama e ficção científica. Fazemos pipoca e pedimos pizza nos fins de semana. E a nossa sala fica irreconhecível pela manhã. :0
Hoje cedo, entretanto, minha Princesinha espantou-se ao ver a sala vazia das bolsas e objetos, antes espalhados em todo canto. A mãe dela — minha filha — carregou-as para seu ugar de destino, finalmente.
Casa com alma bagunçada
Não gosto de bagunça. Mas, aprendi a apreciar esta casa com alma bagunçada. Destas meninas bagunceiras e desorganizadas. Com migalhas de pizza e pipocas no chão; com pingos de catchup nas mantas que cobrem o sofá; com pilhas de livros e cadernos na mesa de jantar e com roupas e mochilas penduradas nas cadeiras.
Aos poucos, fui parando de dizer “não repare a bagunça” às visitas que chegavam de surpresa. A casa está bagunçada, mas temos café quentinho, água gelada e muitas risadas. Não temos obras de arte em nossa casa bagunçada. Temos quadros e objetos de artesanato que me trazem alegria, porque conheço as mãos que a construíram. E reconheço os rostos me sorrindo as fotos espalhadas por paredes e móveis.
A Princesinha fazia amoeba de amido de milho e corante no chão da sala, quando era criança. Recortava e colava materiais diversos sobre a mesa para fazer objetos que ficavam expostos pela casa. Hoje em dia, ela senta no chão da varanda e planta ervas e flores na hortinha que herdou de mim. Sobra terra para todo lado.
Essa bagunça é nossa
Esta casa tem uma alma que todo mundo pode ver. É bagunçada, mas está cheia deste amor das pessoas que moram aqui. Esta é a casa que escolhi para viver. Esta é a bagunça com que aprendi a conviver. Obviamente, não deixo de reclamar, todos os dias, exigindo organização. Esse é o meu papel. Ela arrumam e organizam tudo. Apenas por 24 horas…
Percebo que a casa fica mais arrumada quando as meninas não estão. Mas logo chegam e a algazarra recomeça. Então, surpreendo-me pensando sobre o que faz com que uma casa seja um lar. E a resposta me parece bem óbvia: quando ela tem a alma bagunçada!
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