À escrivaninha. 29°C lá fora. O sol continua escondido atrás das nuvens. Nada de verão ensolarado por enquanto no Rio. Desafiei-me a escrever loucamente e soltar meus pensamentos desordenados. Sem medo, sem julgamento, sem organização, sem edição e sem revisão. Ideias desconexas e sem sentido. Registrar o que vier à mente.
O desafio “A louca da casa” foi proposto pela orientadora do curso “A revolução da escrita“, da querida e talentosa Nardele Gomes. Ele nos estimula a soltar nossa criatividade mais selvagem, aquela que é imune a nosso julgador interno. Simplesmente escrever por dez minutos sem parar e sem pensar.
Então, com o cronômeto do celular acionado, pus-me a escrever sobre qualquer coisa que me viesse à mente. Por mais estranhas que fossem as ideias que me surgiram, deixei a louca da casa falar. Como uma torneira aberta para pensamentos livres. Aqui está o resultado:
A louca da casa agora, há pouco
Nesta manhã percebi que não tenho me dedicado à escrita como gostaria. O cachorro latindo lá fora chamou minha atenção. O ruído da porta se fechando e o som do alarme do carro indicam que alguém saiu de casa. Não ia caminhar? Por que abriu o carro?
Minha mente se esvaziou de repente e minha orelha está coçando. Os bem-te-vis cantam por um momento e silenciam. A coceira agora está na perna. O cheiro de café na xícara vazia sobre a escrivaninha é adocicado, mas não pus açúcar no café.
Os fones estão nos meus ouvidos, mas o vídeo que estava ouvindo já parou de tocar há algum tempo. Ouço vozes femininas lá fora e fico feliz por estar de fones. Gostaria de morar em um apartamento pequeno na zona sul e sair para andar na praia todos os dias com a Cacau. O que me impede? Este inventário danado que não acaba nunca.
Cocei a cabeça. Uma mosca impertinente me incomoda. Abri a cortina para ela sair. Coço-me com tanta força que crio feridas na pele. Não sei mais sobre o que escrever. A casa silenciosa. Um zumbido em meu ouvido. Alguém assobia lá fora. O céu azul esbranquiçado esconde o sol de um verão que resiste em dar as caras por aqui.
Olho o cronômetro no celular. Faltam dois minutos para terminar esse exercício. Uma britadeira ao longe. Coço o pescoço. Lembro-me do nódulo em minha amiga. Respiro profundamente. O bloco de notas sobre a escrivaninha para não esquecer o que fazer. Por que esqueço as coisas? Contagem regressiva. Trinta segundos. Acabou.
Quando retornei ao curso hoje, meses depois que o adquiri, permiti-me repetir este exercício. Na ocasião, não havia me dado conta do quão libertador ele é. Talvez eu deva fazer isso mais vezes. Aguça os sentidos, instiga a imaginação, desafia a coragem de expressar o que vai no fundo da mente.
A confusão de ideias não me incomodou tanto, entretanto, a vontade de editar e de aperfeiçoar o texto foi grande. Deixar o pensamento divagar é mais difícil do que parece. Exercitar o desapego e a noçao de que precisamos ter controle sobre o que escrevemos é um desafio. Peguei leve hoje, eu sei, mas a louca da minha mente não vai conseguir se esconder por tanto tempo. Eu voltarei, ha ha ah ah ah.
O encontro com a “louca da casa” foi interessante. Depois de um tempo, é bom voltar ao texto e observar que ideias, que caminhos, que pistas seguir em minha escrita. No momento, o que escrevi não me diz muita coisa. Mais tarde, quem sabe? Vale a pena tentar.
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