Anos atrás recebi um comentário a um post de meu antigo blog de uma mãe que perdeu seu filho, Disse que não sentia mais vontade de viver e perdeu a fé em tudo, até a fé em Deus. Ela me “parabenizou” por eu demonstrar coragem para continuar vivendo.
Tal observação me chocou, pois eu não demonstrava coragem: sentia-me fraca e frágil, e, às vezes, gostaria de não mais viver. Mas Deus me confortava — não tenho outra explicação pra esta “força” aparente. Talvez, se eu não tivesse a minha Princesinha (na época, com seis meses), eu também preferiria morrer. Mas tive a graça de ser mãe de anjo e avó de princesinha.
Aprendi, através da experiência dolorosa, que quando estamos sofrendo pelas mais diversas razões, não significa que sejamos alguém amaldiçoado, ou destinado a sofrer. Ou que estejamos pagando por ser uma pessoa insensível e egoísta. Através da dor, percebi que os sofrimentos são uma maneira, muito estranha por sinal, de Deus fazer bem à minha vida.
Sofrendo na pele
Quando bem jovem, menina ainda, escandalizava-me em silêncio, caso alguém cometesse alguma ação que eu aprendera ser ruim, inadequada, reprovável. E em meu interior julgava e condenava tais pessoas. Mais tarde, já adulta, percebi que as pessoas erram e aprendem com seus erros a serem melhores seres humanos. E me vi, muitas vezes, cometendo os mesmos “erros” que, em minha mente infantil, eu condenara anos antes.
As experiências pelas quais passei me ensinaram a ser mais flexível, compreender o sofrimento alheio e não julgar as pessoas, eu diria até , preconceituosamente. Coisas que para mim não tinham importância, ou melhor, com as quais eu não me emocionava, nem me importava, passaram a ter outro significado quando passei pela mesma dor que eu ignorava nos outros.
Lembro-me de que, quando ouvia, ou presenciava, uma mãe em desespero diante de uma crise de falta de ar de seu filho, que sofria de bronquite, em minha mente infantil não podia avaliar o sofrimento que era. Mais, tarde, quando passei pela mesma experiência com meu filho, ainda bebê, pude compreender o quanto era imenso esse sofrimento. Outra dor que só pude avaliar o quanto é tamanha, na prática, foi a de conviver com uma pessoa dependente de álcool. Pude sentir na pele o que vivencia uma família cujo pai e marido são alcóolatras. Aí, sim, eu podia saber o que sentiam aquelas mulheres e aqueles filhos.
A pior experiência pela qual passei (e passarei pro resto de minha vida) foi a perda de meu filho. Lembro-me de que, uns dois anos de minha tragédia, alguém me apresentou a uma senhora que havia perdido o filho assassinado. Eu olhava para ela e não podia avaliar o que aquilo significava. Hoje, eu sei que as pessoas que não perderam filhos, não têm condições de avaliar o que é esta perda. É difícil para nossa mente captar aquilo que não vivenciamos. Agora, eu sei como é…
Voltando ao comentário que citei no início deste post, não quero receber “parabéns” por parecer forte. Não sou forte; minha força, acredito, vem de minha fé. Muitas vezes questionei Deus: por quê, sendo tão poderoso, permite tanto sofrimento. A verdade é que, ao contrário de pessoas que se afastam dEle, e até perdem a fé, o sofrimento me trouxe de volta ao caminho. Tenho aprendido a ter compaixão pelos outros que sofrem. Ele tem confirmado o valor da minha fé, por meios das tribulações pelas quais venho passando. Ele tem aperfeiçoado o meu caráter.
E essa dor que não passa…
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