A janela é um lugar poético

À escrivaninha. 24°C lá fora. Tarde nublada e agradável. O vento fresco sacode as cortinas e balança a tampa do notebook em frente à janela. Ouço crianças e cães ao longe. Trinados de passarinhos completam a sinfonia do mundo exterior.

Sigo atrasada nas postagens deste projeto de escrita, mas não desisti dele. Para o vigésimo primeiro post participante, vou compartilhar um dos poemas fenomenais de Adélia Prado, a autora daqueles versos célebres “Mulher é desdobrável. Eu sou.”

Janela

Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
claraboia na minha alma,
olho no meu coração.

A janela é um lugar poético.

Escrevo em minha escrivaninha em frente à janela, A fronteira entre dois universos: o lado de dentro e o lado de fora.

A janela costuma ser o lugar de onde se assiste o mundo, embora, daqui, eu só veja outras janelas em frente à minha. Entretanto, é da janela que o eu-lírico do poema registra momentos importantes da própria vida. A chegada do amado. O pedido de casamento.

Os verso de Adélia Prado enaltecem um objeto tão cotidiano tornando-o singular. Um poema alegre, iluminado, cheio de otimismo e positividade. Ao celebrar a janela, o eu poético, de alguma maneira, exalta a vida.

Tão singela a escrita de Adélia. Sou fã.


* Este post faz parte do BEDA – Blog Every Day (April/August), um projeto coletivo em que os blogs se propõem a postar todos os dias do mês. Ele pode acontecer em Abril e/ou em Agosto.


4 comentários em “A janela é um lugar poético”

  1. Desde a infância que tenho paixão por janelas… ficava espiando seus formatos, as frestas e todos os detalhes. Gostava em especial das venezianas. E as vidraças onde escorriam a chuva. Fotografo janelas pelo caminho e ao fechar os olhos, é como soltar as cortinas… rs

    bacio

    Responder

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