À escrivaninha. 25 ºC lá fora e céu de um azul tão intenso que quase cega as vistas. O inverno está chegando ao fim com dias iluminados. Um tímido arco-íris despontou por trás das nuvens.
Hoje resolvi andar pelas ruas do bairro para me reinscrever na aula de Pilates, depois de algum tempo parada por ordens da ortopedista. Durante o trajeto, escutava, em um único fone de ouvido, Doida para escrever, de Ana Elisa Ribeiro, completamente envolvida nas reflexões sobre a escrita e a vida de escritora.
Antes de atravessar a rua, parei na beira da calçada, concentrada nas vozes do livro. Uma senhora se aproximou e comentou algo, aparentemente sobre um problema pessoal. Ouvi suas palavras pelo ouvido sem fone e concordei com um sorriso silencioso. Minha atenção estava presa às vozes da narrativa do livro, que me convidava a olhar para a minha relação com o universo da escrita de forma mais profunda e realista.
No caminho de volta, quis capturar a paisagem: as folhas pelo chão e as flores na cerca viva. Mas hesitei. O celular permaneceu tagarelando no bolso. Talvez por medo da insegurança de andar com ele na rua, ou por não querer interromper as palavras no áudio livro.
Quem é doido por escrever costuma ter uma sala, um quarto, uma estante, uma prateleira, um computador, o que seja… mas cheios de coisas pra ler, pra olhar, pra visitar, pra levar debaixo do braço. Pensa, pensa, daí vem um ímpeto. A gente fica fogoso, um dia. Não pode nem ver uma folha de papel, uma tela em branco, que o fogo acende.
Ana Elisa Ribeiro. Doida pra escrever.
A cada passo, as palavras Ana Elisa Ribeiro me lembravam que escrever é um diálogo contínuo comigo mesma, uma mistura entre o que vivo e o que sonho, em minhas descobertas nos rituais de escrita.
Ainda não terminei a leitura do livro, mas ganhei uma pauta para este post. Se está bom, não sei, mas sinto que está alinhado às inquietações dessa caminhada. Talvez eu devesse ouvir mais as vozes externas e apreciar a paisagem ao meu redor? Talvez devesse ouvir as vozes internas e aplicá-las a meu fazer literário? Talvez…
E você, que pequenas inspirações o seu dia trouxe?
Foto:Foto de Kanhaiya Gupta en Unsplash