À escrivaninha. 224°C lá fora. Céu nublado e manhã abafada de primavera, com ameaças de chuva para mais tarde.
Conversar sobre um texto literário que a gente acabou de ler é uma experiência fascinante. Descobrir, em tempo real, que sensações a crônica, o conto, o poema, o romance provocou em nós e que reações são desencadeadas a partir daí é estimulante.
Tenho realizado algumas rodas de leitura ao longo da vida e já vi um pouco dessas manifestações. Amor e ódio, admiração e asco, prazer e descontentamento, gatilhos acionados, rostos extasiados ou revoltados, qualquer coisa pode ser desencadeada quando nos defrontamos com um texto literário.
Apartes desafiadores na roda de leitura
Às vezes me perguntam como consigo lidar com reações ou comentários desafiadores. Aprendi com minha mestra Suzana Vargas e por experiência própria como mediadora de leitura, que o melhor antídoto para uma saia justa está ali mesmo, dentro do próprio texto. Indagar ao contexto por que a atitude ou fala de uma personagem, ou um trecho específico incomodou tanto alguém a ponto de suscitar uma resposta agressiva ou prepotente. O próprio texto, na maioria das vezes, acalma os ânimos.
Esta é uma saída produtiva, pois leva o público a perceber como tal aparte se encaixa no trecho lido e nos temas abordados nele. Esse jeito de abordar a discussão ajuda a manter a conversa focado na análise do livro, além de garantir que todo mundo se sinta ouvido e valorizado.
Produzir e mediar rodas de leitura tem sido uma experiência gratificante de empatia e humildade. E de grandes aprendizados. E, quando a roda pega fogo, a gente se refresca na leitura calmante que desencadeou o incêndio. É desafiador e estimulante.
Vem ler comigo
Espero você. É grátis e divertido.
Imagem: Maksymenko Natallia em Canva