À escrivaninha. 23°C lá fora. Parece que o dia continuará agradável hoje. Nada das chuvas ameaçadas pela previsão.
Morar em uma casa perto da mata é uma experiência única. Existe uma diversidade de seres vivendo nela e interagindo (não muito bem, às vezes) com os humanos.
Durante toda minha infância e juventude vivi em uma casa assim. Naqueles tempos, a mata era bem mais fechada. Havia muitas árvores, plantas e, obviamente, bichos. Lagartos, cobras, formigas saúvas, gambás, bois, cabritos e outros seres maravilhosos apareciam frequentemente.
Muitas vezes, répteis invadiam a casa deixando-nos em polvorosa. Ou nós invadíamos o espaço deles… Com tanta interferência humana na mata, os bichos migravam para as residências e instalavam-se em jardins, garagens e telhados em busca de alimento ou abrigo.
Preocupados em exterminá-los feito pragas, ninguém pensava em devolvê-los à mata. Tantas décadas morando ali e ainda não sabíamos manter uma convivência pacífica e respeitosa com os habitantes da mata. Tsc, tsc…
Faz tempo que não vemos animais da mata dentro de casa, com tanta frequência. Alguns poucos lagartinhos ainda se aventuram pelo quintal. E formigas saúvas também. Já não há tanto verde quanto antes. Desmatamento, queimadas, construções no alto da montanha (sim, há um restaurante em cima do morro, a 700 m de altitude!) afastam os animais.
É linda a vista lá de cima da montanha, da janela do restaurante. A trilha de subida é “enfeitada” com diversas garrafas de bebidas alcólicas, cascas de frutas e outros detritos deixados ao longo do caminho pelos humanos que, após um encontro romântico com a natureza, ficam bem “pertinho do Céu”.
A mata é do bicho. O homem invade a mata. O bicho invade a casa do homem.
Foto: Hans Verbug em Canva
Este post participa do #Literoutubro, cuja proposta é escrever um texto sob o tema disutópicos, a fim de explorar ideias de sociedades perfeitas ou falhas, e as tensões entre o desejo de utopia e a realidade de distopias. O tema de hoje: MANEJO.