Madeixas anarquistas

À escrivaninha. 25°C lá fora. O céu voltou a ficar azulindo salpicado de algodõezinhos.

Dizem que os homens são charmosos com seus grisalhos e nós envelhecemos. A despeito disso, mulheres de todas as idades ostentam seus cabelos brancos, encarando o processo de envelhecimento de forma libertária e natural.

Deixar de tingir os cabelos ou continuar colorindo as madeixas? Cada uma com suas escolhas individuais. Libertar-se da obrigação de pintar os fios, mas sentir-se coagida a manter a maquiagem e o corte sempre em dia, para compensar, é  trocar uma ditadura por outra.

Ao sermos desafiadas a mostrar que somos elegantes e bem cuidadas e que o branco dos cabelos não é desleixo, não estaríamos nos submetendo à ditadura da boa aparência, ainda que pareçamos subversivas ao assumir nossos fios brancos?

Se é verdade que o anarquismo combate todas as formas de opressão, então ele também se opõe à opressão às mulheres. Quem determina que fatores são considerados belos e adequados para si não deve ser a mulher?

Seria tão bom se todos, homens e mulheres, mantivessem uma postura de solidariedade e respeito às escolhas individuais. É desanimador ver tanta vigilância e tentativa de dominação ao corpo e às escolhas alheias, em nome de uma ditadura social. Vigilância zero a nossas madeixas anarquistas!


Foto:  Adam Kaz em Canva


Este post participa do #Literoutubro, cuja proposta é escrever um texto sob o tema disutópicos, a fim de explorar ideias de sociedades perfeitas ou falhas, e as tensões entre o desejo de utopia e a realidade de distopias. O tema de hoje: VIGILÂNCIA. ANARQUIA. FATOR

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