À escrivaninha. 23°C lá fora. Céu azul limpíssimo. Um solzinho outonal tímido. Tenho sentido frias as noites e mornos os dias. Silêncio matinal. Há dias que não acordo com os bem-te-vis… Nossa geração tem a capacidade de viver muitos anos, e, por conta disto, precisamos pensar já em nos preparar para uma velhice saudável, estável e feliz.
Completei sessenta há alguns anos e acredito que ainda não enfrentei todos os desafios da tal “melhor idade”. Daqui a alguns anos, veremos se esta transição será realmente melhor. Ainda assim, tenho uma visão positiva sobre envelhecer. Não há muito opção, a esta altura da vida. Ou enfrentamos o processo de envelhecer, com graça e saúde, ou enfrentamos uma morte precoce.
Ninguém, em sã consciência, deseja partir mais cedo. Então, acredito que precisamos encontrar meios para viver bem quando a gente está ficando mais velha. Tentar fazer o máximo que puder por nós mesmos. O que permanece, com o passar dos anos, é o que semeamos.
Abraçar a mudança
Embora o corpo queira se acomodar (e a mente também), é preciso se esforçar para aprender coisas novas. Manter o cérebro em constante funcionamento. Penso em fazer mais um curso online. Ainda não decidi sobre o quê, mas, já tomei esta decisão.
Outra decisão importante é manter o controle da própria vida e do lar. Repensar a vida que deseja viver, e fazer o que for necessário para viver da forma que escolher. Optei morar com minhas meninas, embora sinta falta de um lugar exclusivamente para mim. Entretanto, a segurança e a economia pesaram bastante nesta decisão.
Ainda tomo minhas próprias decisões. Faço as coisas de que gosto para viver e ter felicidade todos os dias. Agora eu vivo exatamente como eu quero viver. Tenho procurado tornar meu tempo “livre” divertido e produtivo. Às voltas com Literatura e escrita criativa e minhas queridas séries de ficção científica e filmes de comédia e drama.
Aposentadoria e liberdade
Hoje eu tenho o tempo e a liberdade de escolher como quero gastar minhas horas. Gosto da aposentadoria e de poder fazer o que quiser e escolher minha vida com cuidado. Quando trabalhava fora de casa, nunca pude tomar decisões de qualidade. Eu precisava decidir sobre o que precisava ser feito imediatamente. Nem sempre podia escolher. Fico feliz em poder pensar calmamente, hoje em dia, sobre as decisões que quero tomar.
Por outro lado, confesso que o envelhecimento não é tão bom quanto eu pensei que seria. As dores nas costas, o cansaço ao subir escadas (embora tenham diminuído bastante com o Pilates), a falta de memória para lembrar nomes de coisas, pessoas e lugares (isso é tão frustrante) e diminuição da força física limitam-me fazer tudo o que planejei, anos atrás.
Passamos a vida esperando a aposentadoria chegar, os filhos crescerem, e outras circunstâncias de ordem material ou emocional nos permitirem fazer o que tanto planejamos. Comigo não foi diferente. Vi o tempo passar e minha lista de desejos crescer.
O segredo para envelhecer bem é se concentrar apenas no que você pode fazer.
Entretanto, com tantas limitações impostas com o passar dos anos, há uma maior satisfação agora, que não havia anteriormente. A idade é o resultado dessas experiências. Tomara que minha velhice seja definida pela generosidade, amor e força. Acredito que estas são minhas maiores qualidades. O envelhecimento ainda não é um problema grande para mim, mesmo com as limitações físicas. Procuro escolher atividades adequadas a minha situação e às circunstâncias de cada dia.
Cultuar o corpo e a beleza pode ser importante, porém, não garante tranquilidade na velhice. Eu deixei meu cabelo grisalho, antes dos cinquenta anos, e me sinto muito bem com isso. E as minhas rugas, que ainda são muito poucas, pretendo assumi-las naturalmente, como marca registrada de uma história intensa de vida e resistência. Minha preocupação não é com a aparência física ditada pelos padrões sociais. Importa-me estar física, emocional e mentalmente ágil e saudável.
Em vez de lutar com o envelhecimento, procuro maneiras de aproveitá-lo melhor. Ter uma vida saudável e de qualidade. Envelhecer ou morrer? Não são opções. São realidades. Enquanto esta não chega, tratemos de dar mais alegria àquela.