À escrivaninha. 29°C lá fora. Céu azul acinzentado salpicado de grossas nuvens branquíssimas. O calor dissipou-se a poucos dias da chegada do outono tão esperado.
Como uma aprendiz de escritora que se preze, venho construindo, pouco a pouco, uma voz própria em minha escrita. Um jeito único de expressar as minhas ideias. Algumas pessoas chamam isso de estilo. Algo que nos confere uma identidade literária e revela a autenticidade de nossos textos.
Nossa voz na escrita tem o poder de nos conectar com quem nos lê e de atrair pessoas simpatizantes das mesmas causas e envolvidas com os mesmos questionamentos.
Um RX em minha cabeça de leitora
A confecção de um mapa mental foi preponderante para organizar e ilustrar os elementos inspiradores nas obras que aprecio. Ao terminá-lo, tive uma imagem nítida (ou quase) do que me emociona na escrita de determinados livros e me motiva a querer escrever romances inspiradores com o mesmo estilo, com a mesma voz.
Entretanto, o mapa precisava revelar, além da minha essência como leitora, a minha própria voz como escritora. Só assim eu poderia ter em mãos as ferramentas para guiar meus passos na escrita de meus romances. Então, ao preencher as lacunas do gráfico abaixo, procurei identificar os elementos mais relevantes e inspiradores capazes de me atrair para determinados livros ou filmes e, a partir daí, encontraro meu próprio estilo, minha própria voz para escrever sobre o que me emociona, sobre o que me seduz.
O que me seduz na escrita das obras literárias
Identifiquei alguns conceitos e fatos que me agradam em meus livros e filmes preferidos e que me influenciam a escrever com a mesma paixão. Após preencher o mapa mental com tópicos periféricos aos tópicos centrais, em meu caderno, cheguei a uma primeira conclusão a respeito do que influencia meu estilo de escrita.
Refletindo sobre cada tópico, pude perceber o quanto as histórias ambientadas nas cidades me atraem mais que as em regiões bucólicas. Por sua praticidade e acesso a facilidades oferecidas pela tecnologia e coisas que o progresso traz. Entretanto, também sou atraída por histórias com paisagens naturais e ambientes com muito verde e água. Por isso, gosto de ambientar minhas histórias em grandes centros urbanos próximos à praia.
Outro aspecto que me fascina nas obras que escolho consumir é a fantasia, a magia e a ficção científica. Desta maneira, procuro envolver minhas personagens com essa aura de sonho, de romantismo, de beleza e delicadeza, ao mesmo tempo em que são pessoas à frente de seu tempo e que não se estagnam com empecilhos sociais ou biológicos.
Quando leio sobre a jornada de personagens como Elizabeth Bennet, a heroína de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, ou como Claire Beauchamp, a protagonista de Outlander, de Diana Gabaldon, identifico-me com suas causas, com seus questionamentos, com seus anseios, com sua luta.
Em meus romances, optei por retratar mulheres de meia idade lutando pelo que acreditam e correndo em busca de realizar seus sonhos. E conseguem! Apesar dos obstáculos que a sociedade tenta nos empurrar goela abaixo, tais como: Você não pode mais. Já passou da idade. Deixa isso para as mais jovens. São mulheres modernas, decididas, obstinadas, livres e apaixonadas.
Temas que me fascinam
Para encontrar minha voz na escrita precisei me conscientizar sobre as razões pelas quais escrevo romances. E percebi que quero ser uma escritora que deseja naturalizar a presença da mulher de meia idade e após ela em todos os espaços na sociedade — profissional, afetivo, de lazer, acadêmico, político e onde mais ela quiser. Incomoda-me que mulheres sofram etarismo em alguns lugares em que deseja estar e em posições que almeja alcançar.
Então pensei: como expressar minha voz para escrever um romance com um tema tão polêmico e complexo, usando um tom delicado e envolvente? Com personagens que retratem mulheres com as quais me identifico, mulheres que desejei ser um dia, mulheres que procurei ser ao longo dos anos, mulheres que ainda posso ser se eu quiser. Transpondo a barreira do preconceito, do etarismo, do silenciamento, do apagamento. Mulheres que podem e são.
Ainda continuo em busca de minha própria voz em meus escritos, porém acredito que é possível me reconhecer nos textos já produzidos e perceber que eles refletem minha personalidade como escritora. Basta, agora, aprimorar-me na técnica de escrever histórias envolventes e relevantes que deixem as pessoas confortáveis ao se verem representadas nas tramas de minhas heroínas.
De repente, quase esqueci que sou apenas uma aprendiz de escritora, mas devagar eu chego lá.
Foto da capa: de Carli Jeen na Unsplash