À escrivaninha. 23 °C lá fora. O dia está agradavelmente nublado. Pela minha janela, observo o céu esbranquiçado. Deve chover a algum momento. Respiro fundo e aperto os olhos à claridade da manhã. Há dias que não ouço os bem-te-vis. Eles sumiram ou eu parei de percebê-los?
Ainda preciso caminhar bastante no sentido de viver bem sob os meus próprios termos. Começar a fazer mudanças a fim de criar uma vida mais autêntica e que me traga alegria e satisfação. Isto inclui tarefas, lugares, situações e pessoas. Deixar ir o que não me serve e contornar as pedras que ainda precisam ficar em meu caminho. Como? Traçando limites.
Limites não são apenas linhas a serem cruzadas, mas sim limiares a serem respeitados.
Perceber o momento de transição é crucial para não me deixar enredar por situações que me estressaram a um nível escatológico nos últimos anos. E o silêncio, em todos os aspectos — palavras e ações — tem sido um poderoso aliado nesta desafiadora escalada em busca de paz de espírito.
Fechei os olhos e prestei atenção em meus pensamentos neste instante. Eles teimam em permanecer em algo que me inquieta há algum tempo. Decidi dar ouvidos a essa voz me dizendo que eu não preciso me moldar à vontade de alguém para manter a convivência. Pela primeira vez, aprendi a mirar, não em conquistar aprovação, mas em ser — ser eu mesma, assim como sou.
Minha alma revelou-me a verdade que eu venho ignorado por muito tempo: esta é a hora de dizer basta a esta interferência em minha vida. Ainda não sei como, mas tenho certeza de que não me deixarei abater sob esta pressão. Como? Sendo autêntica nas ações e cuidadosa nas palavras. Mais uma vez, o silêncio será meu aliado. Não um silêncio aquiescente. De jeito nenhum. Apenas um exercício de reflexão sobre o quanto algo pode ser bom para minha paz de espírito. E, desta forma, não ceder à pressão e parar de pisar em ovos.
Agora percebo, tantos anos depois, que alguns limites são necessários para me manter segura, para que eu possa simplesmente ser. Por ora, apenas respiro, sorrio e contorno as pressões que podem me desestabilizar ao longo do caminho. Ser como a água no rio, calmamente passando pelas pedras, inevitáveis, mas impotentes em impedir o fluxo da corrente.
Sempre em frente. Como as águas do rio contornam as pedras