À escrivaninha. 23°C lá fora. A tarde segue iluminada embora nuvens cinzentas tentem obstruir seu brilho primaveril.
Às vezes, sinto-me perdida com as voltas desse novo mundo, em que o conceito de liberdade e direitos iguais se confunde com a falta de respeito.
Há alguns anos, uma aluna comentou sobre mim: “A professora Denise é a pessoa mais cafona que eu já conheci.”, referindo-se a minha aparência e meus hábitos antiquados. Concordei com ela, confesso, rntretanto, se ter personalidade e se manter fiel a seus princípios é ser cafona, então eu sou.
Por outro lado, sou bem ‘moderninha’, apaixonada por tecnologia. Vivo conectada. Uso as redes sociais, escrevo em blogs (tá, isto é antiquado), faço downloads, possuo emails, faço cursos, converso por vídeo, leio e-books e feeds. Passo horas a jogar no celular e a assistir filmes e séries na tevê ou nos dispositivos. Realizo operações, organizo meus compromissos, tarefas e orçamento em planilhas e aplicativos. Só piso em agência bancária se tiver de assinar algo. Isso mesmo, dificilmente entro em uma fila preferencial. Resolvo tudo online. Faço orçamentos de serviços pelos aplicativos, transfiro o pagamento no bankline, envio o recibo pelo celular e salvo tudo.
Entretanto, embora tente acompanhar a evolução da sociedade, sempre volto à minha cafonice e caretice. Prefiro ser velha e antiquada a ter de viver com desrespeito travestido de modernidade. Ou a me comportar de acordo com padrões estabelecidos. Sou chata. Sou séria. Sou cafona. Sou antiquada. Sou kitsch. Mas, bem moderninha para minha visão de mundo e de civilidade.
Foto: Charles Taylor em Canva
Este post participa do #Literoutubro, cuja proposta é escrever um texto sob o tema disutópicos, a fim de explorar ideias de sociedades perfeitas ou falhas, e as tensões entre o desejo de utopia e a realidade de distopias. O tema de hoje: PROGRESSO.